As introduções de algumas culturas no Brasil são recheadas de fatos curiosos. Com as oliveiras não poderia ser diferente. Deste a imposição da coroa portuguesa para destruição dos olivais brasileiros, a fim de forçar o consumo do azeite português, até a falta de escrúpulos de importadores, após a independência do Brasil, afirmando que “em aqui se plantando-nem-tudo dá”. Mas, essa história é melhor contada em outro post.
Alguns números para entendermos como o Brasil se situa comparado aos principais produtores do mundo:
- São mais de 1.800 cultivares catalogados, apesar de muitos possuírem apenas pequenas variações de genoma de uma variedade anterior;
- Aproximadamente 700 variedades são cultivadas pelo mundo;
- Os países com maior tradição na olivicultura cultivam diversas variedades. Contudo, todos têm cultivares que melhor representam a cultura no país. Por exemplo, a Espanha, maior produtor mundial, possui mais de 120 cultivares diferentes, sendo os maiores representantes a Picual e a Hojiblanca;
- No Brasil nossa mais ilustre representante é a Arbequina. Outros cultivares, como a Maria da Fé, Picual, Koroneiki, etc. estão se desenvolvendo de forma lenta e, muitas vezes, de forma não bem sucedida;
- Existem aproximadamente 15 cultivares no Brasil;
- Apesar de ser o segundo maior importador de azeitonas de mesa e um dos maiores consumidores per capita, o cultivo de azeitonas no Brasil para esse propósito é ainda mais restrito. São 4 cultivares para esse propósito principal e mais 2 com duplo propósito – azeite e mesa.
Características dos cultivares mais encontrados no Brasil
Para o Brasil nos detivemos em 15 cultivares e a tabela abaixo apresenta penas 10 características. Para todos eles já foram publicados post específicos com mais informações, e estarão na tabela mencionada para o “mundo”.
Não considerada o cultivo intensivo ou superintensivo.
CULTIVAR | VIGOR | COPA | DENSIDADE | MAIOR VOCAÇÃO | PRODUÇÃO MÉDIA POR ÁRVORE (Kg) | FRUTO em "g" Média ou peso máx. e mín. | % GORDURA TOTAL | % MÉDIO Kg AZEITE POR KG AZEITONA¹ | RELAÇÃO PELE+CARNE ÷ CAROÇO | INDICAÇÕES PARA POLINIZAÇÃO² O cultivar polinizado nem sempre é o polinizador da variedade polinizadora |
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ARAUCO | Alto | Aberta | Alta | Mesa | 4,77 | NDF | NDF | 9,2 | Parcialmente alto compatível. Manzanilla, Arbequina, Pendolino, Morchiaio e "Ascolana" | |
ARBEQUINA | Baixo | Aberta | Média | Azeite | 35,6 ±2,3 ² | 1,9 ¹ | 66,2¹ 49,8² | 19,5 | 4,6¹ 5,8 ² | Autopolinizante. Muito utilizada para polinizar outras variedades, mas sugerido: Bouteillan , Verdale de l'Hérault, Amygdalolia, Manzanilla, Pendolino, Cailletier, Frantoïo, Grappolo e Cayet roux |
ARBOSANA | Baixo | Aberta | Alta | Azeite | 35,8 ⁸ | 1,43 ⁵ | 51,8 ⁵ | 4,65 ⁵ | Arbequina, Koroneiki | |
ASCOLANA TERENA | Alto | Verticalizada | Alta | Mesa | 35,85 ⁷ | 4 a 6¹º | 36,9 ⁸ | NDF | 5,85 a 6,1¹º | Santa Caterina, Itrana, Rosciola, Morchiaio, Giarraffa, Pendolino, Leccino, Frantoio, Pendolino, Arbequina, Picholine, Cayet roux, Grossane, Belgentier, Cayon, Corniale |
CORATINA | Médio | Aberta | Alta | Azeite | 40*** | 3,8±0,1² | 39,2 ⁸ | 13,1±0,1 ² | 6,2 ² | Tendência a ser autoestéril. Sugerido Leccino, Manzanilla e Cellina |
CORDOVIL DE SERPA | Baixo | Aberta | Média | Duo | 24,5 | Grappolo, Arbequina | ||||
FRANTOIO | Médio | Pendular | Média | Azeite | 25,3±10,2 ² | 2,5 ² | 41,6±0,6 ² | 21 a 23,9 | 4,4±0,4 ² | Verdale de l'Hérauult, Bouteillan, Moncita, Arbequina, Picholine, Cayet blanc, Pendolino, Leccino, Morchiaio e Moraiolo |
GALEGA | Médio | Verticalizada | Alta | Duo | 17,2 ±0,3 ² | 2,3² | 36,0±0,4 ² | 20 a 25 | 5,6 ² | Grappolo, Arbequina, Cordovil de Serpa, Alto D'Ouro, Ropades e Santa Catalina |
GRAPPOLO | Alto | Pendular | Alta | Azeite | 2,55 | 35,3 ⁸ | 15 >20 ⁶ | 5,7 | Autoincompatível. Alto D’Ouro, Arbequina, Negroa, Cordovil de Serpa e Ropades 392 | |
HOJIBLANCA | Médio | Verticalizada | Média | Duo | 22,2±4,9 ² | 4,8 ¹ 5,2 ² | 76,1 ¹ 39,8±1,4 ² | 18,0 | 7,9 ¹ 8,2±0,4 ² | |
KORONEIKI | Médio | Aberta | Baixa | Azeite | 1,54 | 51,1 | 22,5 | 2,7 | ||
MARIA DA FÉ | Médio | Verticalizada | Baixa | Azeite | S. Ref | 2,3 | S. Ref | 7,0 | S. Ref | Sem referência. Podemos considerr identica a Galega |
MANZANILLA DE SEVILLA | Baixo | Aberta | Média | Mesa | 26,1±1,0 ² 53,4 ⁹ | 4,6 ¹ 4,7±0,2 ² | 69,5¹ 48,4±1,9 ² | NDF | 8,2 ¹ 9,4 ² | Parcialmente alto compatível. A ascolano e mission (missão) são incompatíveis. |
PICUAL | Médio | Aberta | Alta | Azeite | 41,5±5,7 ² | 3,2 ¹ 4,3±0,1 ² | 78,4 ¹ 50,5±0,2 | 25,0 | 5,6 ¹ 7,9±0,1 ² | Bouteillan, Grossane, Verdale de l'Hérault, Leccino, Cayon e Corniale |
VERDIAL DE HUEVAR | Médio | Verticalizada | Alta | Azeite | 5,7 4,5 ¹ | 72,7 ¹ | 25 | 7,2 5,5 ¹ |
Referências das informações na tabela
¹ referem-se a pesquisa conduzida em olivais espanhóis por Marino Uceda, Maria de Paz Aguilera, Antônio Gimenez e Gabriel Beltrán. .
² referem-se a média da colheita do 7º ao 10º ano do Banco Mundial de Germoplasma – Córdoba, junta de Andaluzia, Espanha. Todos os cultivares desse estudo (Espanha) tiveram a primeira colheita no 3º ou 4º ano.
³ referem-se a relatórios diversos italianos.
⁴ Fontes:
- Galega: Refere-se a plantação tradicional em Portugual;
- Sikitita: Compasso em SEBE – vocação natural do cultivar.
⁵ oriundas da OLINT
⁶ oriundas do Instituto de Investigaciones Agropecuárias do Chile (http://www.inia.cl/wp-content/uploads/Boletines/NR30542.pdf)
⁷ “Estudio comparativo de cultivares de olivo destinados a producción para mesa en Extremadura” – M. Puebla e J. A. González. Departamento de Hortifulticultura – Guadajira / Badajoz.
⁸ INIA Terra adentro – http://www2.inia.cl/medios/biblioteca/ta/NR37196.pdf
⁹ Chilean journal of agricultural research – versión On-line ISSN 0718-5839 (Chilean J. Agric. Res. v.69 n.3 Chillán sep.2009)
₁₀: Fonte “www.pianidisettore.it”
Observações
Rendimento de azeite por massa de azeitonas
Depende de muitos fatores, dentre eles condições climáticas, umidade do solo, nutrientes do solo, bem como época de colheita. Quanto mais tardia maior o volume de ácidos graxos obtidos, mas menor a quantidade de polifenóis.
Polinização
A principal característica para um cruzamento de polinização, além da compatibilidade genética e clima comum as variedades envolvidas, é a simultaneidade do florescimento a fim de maximizar a troca de pólen.
As sugestões para polinização são fruto de experiências conduzidas por alguns cultivadores que visitamos. Também foram analisadas as pesquisa realizadas fora do Brasil, bem como cruzamento de informação de estudos publicado pela EMBRAPA. No estudo da EMBRAPA foram analisadas os cultivares Alto D’Ouro, Arbequina, Galega, Grappolo (541, 561, 575), Negroa, Cordovil de Serpa (Penafiel), Ropades 392, Santa Catalina.
Fonte
“Características fenológicas e físicas e perfil de ácidos graxos em oliveiras no sul de Minas Gerais”, conduzida pela Universidade Federal de Lavras (Ufla) sobre a safra de 2008 a 2011, pelos pesquisadores Marcelo Caetano de Oliveira, José Darlan Ramos, Rafael Pio e Maria das Graças Cardoso. Outros aspectos da polinização são tratados em post específico sobre esse assunto.
Produtividade
A produtividade de azeitonas por árvore é o fator que mais varia na cultura. Verificamos casos de árvores que nunca frutificaram sem motivos aparentes, mesmo acompanhadas por engenheiros agrônomos. Também há casos de árvores com produção precoce alta sem cuidados excepcionais. Temos relatos de árvores produzindo mais de 100 Kg de azeitonas. O que se tenta fazer é diminuir as variações com adubação, irrigação, prevenção a pragas e outros cuidados.
No Brasil
No Brasil não temos um histórico além do que os cultivadores “acreditam” ser razoável. Devido a colheita anual da cultura, com diversas variáveis que ocorrem ao longo do período, ainda não permitiram ambientes de estudo de produção constante. Qualidade do solo, disponibilidade de água, genética, polinização, poda correta e clima (altitude) são alguns dos fatores que aparentemente mais influenciam na produtividade. Apresentares posts para todas essas questões.
Plantações intensivas ou superintensiva
Plantações com 800 a 2.000 árvores por hectare, com aplicação constante de teste de solo, poda e controle de pragas apresentam números mais constantes por hectare, podendo ultrapassar facilmente 10 toneladas métricas. Mais informações e índices de produtividade de plantações intensivas e superintensivas serão tratados em post específico.
Veja também nossos posts, ou aguarde a publicação, onde trataremos da polinização de forma mais detalhada, umidade do solo, parâmetros para polinização (inclusive a artificial), e fertilidade do solo.
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