PODAR, OU NÃO…

A “poda das oliveiras talvez seja o tema mais polêmico que envolve a olivicultura. Podar oliveira pode ser alvo de muita discussão e desentendimento, logo não pretendemos chegar a um consenso amplo, mas ao menos aos adeptos, dar algumas dicas de como e quando se deve podar as oliveiras.

Apesar de a grande maioria afirmar categoricamente que a poda é necessária, cada vez mais surgem defensores de uma contracultura que defende a menor intervenção possível no crescimento das oliveiras.

HISTÓRIA

Há 2.400 anos o agrônomo romano Lúcio Júnio Moderato, vulgo Columela, no livro De arboribus, citava:

“…quem lavra o olival pede-lhe fruto; quem o estruma pede-lhe com muita insistência; quem o poda obriga-o a dar azeitona…”

Columela

Mas poderíamos citar Hamlet, mas com um pequeno ajuste: “Controvérsia, seu nome é Oliveira!!!”

Hoje a opinião da maioria confirma que a poda é fundamental para o aumento da colheita e sua regularidade, como por exemplo em:

“… O tipo de poda e sistema de condução são dois dos principais fatores no desempenho de árvores bem sucedidas e rentabilidade dos pomares…” (tradução livre de trecho do prefácio)

Poderíamos também citar os trabalhos de Tombesi e Tombesi (2007), Garcia-Ortíz et al. (2008), Gregoriou (2009), Therios, (2009) e diversos outros autores com publicações, estudos ou simplesmente orientações em páginas da internet.

CONTRACULTURA DA PODA

A argumentação é simples. A poda retiraria da árvore a capacidade de sintetizar os elementos necessários ao seu crescimento e frutificação, ou seja, os “fotoassimilados”.

A adaptação do seu formato responde aos recursos disponibilizados (água, luz, nutrientes, etc). Sua capacidade de adaptação foi desenvolvida ao longo de milênios e garantiu seu sucesso como espécie. Podemos tomar como exemplo árvores centenárias e bem cuidadas que produzem quantidades espantosas de azeitonas.

Na Tunísia, às margens do Saara, existe uma gigante do cultivar Chemlali que produz 800 quilos de azeitonas por ano.

Os defensores da não poda afirmam que uma oliveira que cresce livremente, expande sua copa e ajusta-a aos recursos disponíveis. Faz-se notar que a oliveira, tal como qualquer outra espécie vegetal, tem como objetivo produzir o maior número possível de descendentes. Não seria a intervenção humana o fator diferencial para produção de frutos e sementes. Obviamente, o fornecimento de nutrientes e água não entra nessa lista. Alterar tais fatores não está ao alcance da árvore que, apesar do seu fantástico sistema radicular, apresenta limitações naturais.

Outro ponto interessante é que o equilíbrio entre o sistema radicular e copa dificilmente será afetado pela ausência de poda. Há relatos de oliveiras com 12 metros de largura e 7 metros de profundidade.

PODA EM OUTRAS ESPÉCIES

A poda em outras espécies ocorre a fim aumentar o valor comercial da fruta, como é o caso das macieiras. A maçã aumenta de tamanho a fim de comportar um maior número de sementes.

A ideia de fazer a árvore “sofrer” encontra aderência em outras culturas, como no cultivo da laranja. Em algumas regiões é aplicada um regime sem irrigação até o início da floração, pois a árvore foca todos seus esforços na sua multiplicação. Tão logo a floração ocorre os agricultores retomam a irrigação para garantir a melhor formação de frutas possível. Mas, nesse caso, não ocorre a poda.

POR QUE PODAR?

Polêmica à parte e dentro da “velha escola”, ou “escola tradicional”, podemos considerar que a poda responde a algumas demandas/objetivos:

  • Eliminar ramos “ladrões”. São ramos que crescem de forma vertical e que não produzem azeitonas, mas roubam energia da árvore, reduzindo a frutificação;
  • Estimular que ramos novos brotem, pois são os galhos novos os grandes produtores de azeitona;
  • Facilitar a colheita, conduzindo a oliveira ao formato mais adequado à técnica pretendida e à densidade de plantação em questão;
  • Melhorar a aeração (polinização) e exposição aos raios solares da árvore como um todo, evitando partes “fechadas”, muito sombreadas.

QUANDO E COMO PODAR? CULTURA TRADICIONAL (NÃO INTENSIVA)

  1. Deve-se estabelecer um equilíbrio entre as raízes e a parte aérea. Logo, no início do crescimento não se deve realizar grandes podas. Em árvores já produtivas, deve-se buscar o equilíbrio, podando apenas o necessário para obtenção dos objetivos definidos acima.
  2. Os cortes têm de ser “limpos”: Lisos, sem esfarelamento do ramo. Oblíquos, o mais próximo possível de 45º. Sem machucar o tronco de onde deriva. O corte deve ser rente ao tronco.
  3. Uma árvore debilitada deve ser mais podada que uma vigorosa. A poda é apenas parte de uma série de cuidados a se ter com a árvore e sua recuperação. A poda tende a revitalizar o sistema de circulação da seiva.
  4. Deve-se evitar podas durante a colheita ou no alto do inverno. Caso necessário, realizar de forma moderada, pois a cicatrização é mais demorada e facilitará o aparecimento de pragas.
  5. Em árvores maiores, aconselha-se deixar entre 3 e 4 pernadas (galhos mais grossos) saindo do tronco principal. Manter um terço do volume da copa, salvo podas radicais. Poda em formato de “vaso policônico” ou “taça”.
Olival não intensivo
Cultura tradicional – Não intensiva
OBSERVAÇÕES:
  • Somente podar uma árvore produtiva quando o objetivo é a eliminação de alguma praga ou eliminação de ramos ladrões. Sempre há o risco de a árvore não se recuperar como esperado. Logo, não devemos podá-la de forma indiscriminada.
  • Com uma árvore já adulta (mais de 20 anos) as podas normalmente são mais severas, a fim de forçar a substituição de ramos doentes, mal nutridos (os ramos “ladrões”) ou ainda os que mantenham contato excessivo entre si, causando atrito.
  • Receita de jardineiro: No local do corte, principalmente para galhos mais grossos, ministrar uma solução aquosa de própolis ou canela em pó. Outra opção é tinta plástica, contudo não somos muito adeptos dessa ideia.

TIPO DE PODA

Condução do formato

Como podar oliveiras para elas sejam conduzidas ao formato desejado pode ocorrer todos os anos, dependendo do desenvolvimento da mesma. Para tanto, a presença de fósforo (fostato) no solo é fundamental.

Devem ser podas muito cuidadosas e pequenas, pois durante os primeiros anos existe um desequilíbrio entre a copa e o sistema radicular, sendo o segundo privilegiado durante o processo de formação. Ou seja: Toda oliveira, nos primeiros anos de vida, possui mais raiz do que folhagem. Logo, cortar exageradamente seus ramos significa reduzir seus processos metabólicos de crescimento.

Conservação e frutificação

Essas variam entre moderada e severa, pois dependem de fatores como resultado de produção da planta, existência de ramos fracos, excessivo número de ramos ladrões, doenças, etc.

Uma árvore bem encopada no formato desejado e com uma boa produção, deve ser podada o mínimo possível. Cada árvore faz parte de um sistema. Caso um indivíduo esteja muito abaixo do esperado, deve-se considerar todos os fatores envolvidos: Nutrientes, pragas, curva de umidade do solo, condições para polinização, insolação, etc. Por fim, é possível que o local não seja adequado ao cultivar, ou ainda que o indivíduo tenha algum problema de formação. Nos últimos dois casos resta como opção apenas a remoção.

FORMATOS TRADICIONAIS DE PODA

Formato de taça

Facilita a colheita e está alinhado com a orientação de aumento de luminosidade e aeração em toda árvore, pois para atingir esse formato os galhos internos é que devem ser cortados. Bom formato para colheita manual ou com a mínima utilização de derriçadores ou escadas.

Poda em taça

Monocônica – Escada

Mantém-se uma “pernada” principal verticalizada e permite-se apenas que os ramos e galhos horizontais se desenvolvam, sem competição de ramos ladrões. Esse formato permite aumento da altura e volume total da árvore, mas para colheita será necessário maior emprego de derriçadores e/ou escadas. Difere do formato em “pirâmide” ou “falsa palma” devido a altura permitida ser maior.

Monocônica

Pirâmide ou falsa Palma

Este formato é utilizado na cultura intensiva ou superintensiva e em “sebe”. Nesse caso, a intenção é utilizar a colheita mecanizada com vibradores, ou colheitadeiras. O formato se assemelha a uma pirâmide ou falsa palma.

Poda em Y ou Palma

Colheitadeiras ainda não são presentes no Brasil, pois não produzimos de forma intensiva: De 500 a mais de 2.000 pés por hectares, em “sebe”.

Outros formatos: Em Globo e Cespugliato

Em Globo
Cespugliato
Cespugliato

 

 

 Observação: A literatura trata sobre outros formatos, mas sem muita distinção ou funcionalidade além das apresentadas acima.

PODA NO PLANTIO INTENSIVO E SUPERINTENSIVO

A poda nesses sistemas é mecanizada, inclusive com “poda de topping“, com trator e discos cortantes a fim de viabilizar a utilização da colheitadeira com menor dano a árvore, mas nem sempre é necessária. Segue-se a esta a poda “normal”. A poda “normal”, que ocorre de forma anual ou bianual se dá em 2 fases: (a) Parte inferior de forma mecanizada; (b) Com motosserras os podadores ajustam o formato da árvore ao formato de pirâmide.

Vídeo de poda de topping – Cortesia de www.elolivarsuperintensivo.com y www.agromillora.com

É fato que a necessidade de replante devido a redução da longevidade da oliveira no sistema superintensivo (sebe) é alto. Maiores detalhes no nosso artigo sobre modelos de plantio (plantação).

ORNAMENTAÇÃO

Para fins ornamentais pode-se adotar uma condução do crescimento da árvore conforme a estética desejada, mas com os mesmos cuidados relacionados a preservar a saúde da árvore. A dica é deixar a árvore crescer livremente, esperar muito tempo, ou comprar um indivíduo já adulto.

UTILIZAÇÃO DE VIBRADOR

É necessário observar os seguintes aspectos em relação à utilização de vibrador:

  • Aplica-se apenas à árvores de pequeno e médio portes;
  • Utilizável apenas em cultivares com frutos de fácil descolamento;
  • É utilizado para aumentar a produtividade. Na colheita manual, cada coletor retira, em média, 60 Kg de azeitonas por dia. Entretanto, em um processo mecânico, a quantidade se multiplica por 10 ou mais;
  • Aumenta o risco de danos ao fruto, por conseguinte piora a qualidade do azeite;
  • Não possibilita colheita fracionada. Alguns olivicultores fazem a colheita em duas etapas. Deixam para um segundo momento as olivas que ainda não atingiram o ponto desejado para processamento.
  • Possível dano à árvore e suas raízes. Alguns sites citam que somente as raízes mais fracas são rompidas. Isso seria benéfico para árvore, pois força a produção de raízes mais novas e mais fortes. Contudo, não localizamos estudos que comprovem esse argumento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todo material retirado das podas deve ser bem aproveitado, quer seja madeira para fabricação de utensílios, lenha para aquecimento ou triturado para servir de adubo para as próprias oliveiras.

A poda de uma árvore pouco produtiva é uma oportunidade de enxertar ramos de uma árvore mais produtiva. Mas, isso será tema de uma próxima publicação.

Observação: Publicamos em 07 de janeiro de 2018 um complemento sobre o assunto: Mais um pouco sobre a poda – Complemento I.

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