Como o próprio nome diz, a doença parte de um inseto, uma mosca, a Bactrocera oleae, ou como popularmente conhecida a Mosca da Oliveira, ou ainda Mosca da Azeitona.
É um dos principais problemas que aflige os olivais na Europa e que se estende ao oriente próximo, como por exemplo a Síria.
Em alguns países, como por exemplo Portugal, é considerado o pior problema para produção de azeitonas, gerando milhões de euros de prejuízo.
Na América do Sul não há relato do inseto, contudo não significa que não seja uma ameaça em potencial, pois assim como outros vetores migram com facilidade entre países e continentes, a Mosca da Oliveira poderá em dado momento migrar.
Observação: Já está presente nos Estados Unidos (Califórnia) e América Central.
O maior risco é o não respeito as barreiras fito sanitárias. Muitas pessoas importam de forma irregular mudas de cultivares (variedades) de seu interesse sem o devido controle, o que não impede que elas não possuam ovos ou larvas da Mosca.
A falta de controle de postos de aduana também pode ser um problema, pois a larva e/ou ovos podem estar presentes em outros produtos que não só as mudas de oliveiras.
Origem
Existem indicações que a Mosca da Oliveira teria surgido no continente africano, onde os frutos hospedeiros eram ancestrais selvagens das oliveiras hoje cultivadas (Nardi et al, 2005)
A disseminação para a Europa e outros locais deveu-se ao próprio sucesso das oliveiras na cultura humana ainda em uma época sem controle de barreiras.
O que é
A mosca-da-azeitona é um díptero tefritídeo (duplo períptero [corpo] que depositam seus ovos em um tecido vido para que a larva se alimente)
A espécie Bactrocera oleae põe seus ovos exclusivamente nas azeitonas. Ao eclodir as larvas começam a se alimentar da polpa da azeitona. No estágio final do desenvolvimento um novo inseto pode surgir na própria azeitona, ou ainda no solo após a queda da larva. Em condições favoráveis o ciclo pode durar menos de um mês.
Como já citado, as larvas da mosca da oliveira alimentam-se exclusivamente dos frutos das oliveiras, podendo ser espécies selvagens ou cultivadas (Olea spp.). Dentre as selvagens as mais susceptíveis são as Olea verrucosa e Olea chrysophylla. Outra espécie susceptível e que pode ser encontrada de forma selvagem e cultivada é a Olea
Europaea. Observação: As azeitonas maiores, normalmente utilizadas para produção de azeitona em conserva (mesa) são as preferidas para depósito dos ovos pelas Moscas das Oliveiras.
Classificação taxonômica
Por se tratar de um animal, a classificação é diferente de outras já apresentadas nesse blog. Até então os fungos, plantas e bactérias seguiam as classificações de seus respectivos reinos.
A Mosca da Oliveira segue o reino Animalia (Animal)
- Reino – Animalia
- Filo – Arthropoda
- Classe – Insecta
- Ordem – Diptera
- Família – Tephritidae
- Gênero- Bactrocera
- Espécie – Bactrocera oleae
- Gênero- Bactrocera
- Família – Tephritidae
- Ordem – Diptera
- Classe – Insecta
- Filo – Arthropoda
Nome Binomial: Bactrocera oleae (Rossi 1790).
Sinônimos
- Dacus oleae
- Dacus oleae var. flaviventris
- Dacus oleae var. funesta
- Musca oleae
Uma praga de difícil detecção
Durante a fase de ovo e alguns dias depois, a detecção de uma azeitona contaminada é muito difícil, pois os orifícios no fruto são muito discretos.
Morfologia das etapas de reprodução
Ovos: A mosca fêmea deposita um ovo dentro da azeitona em desenvolvimento, usando seu ovopositor serrilhado, que corta a casca da azeitona. É geralmente depositado apenas um ovo por azeitona quando são azeitonas pequenas.
Os ovos, assim que depositados, são brancos e opacos, com cerca de 0,74 x 0,21 milímetros, e tem o formato alongado, ligeiramente curvados, mantendo esse aspecto até a eclosão da larva que ocorrem entre 2 e 3 dias.
Larvas: As larvas emergem da extremidade anterior do ovo, e começam a se alimentar da polpa da azeitona dirigindo-se de forma profunda dentro da azeitona. A fase de larva, bem como a do ovo, não é visível. Esta fase dura aproximadamente 20 dias. Assim com o ovo, a larva não será visível até que saia após período de crescimento.
As larvas são típicas de tefritídeos, sendo que no estágio final de crescimento são pequenas (5 a 6 mm de comprimento, 1,5 mm de largura), alongadas e ligeiramente afiladas em cada extremidade.
Pupas: A pupação pode ocorrer tanto fora (solo) quanto dentro do fruto, normalmente dentro. Essa variação ocorre por conta da época do ano, e o número de larvas na mesma azeitona. No solo ocorre com maior frequência no final do período, quando a concentração de larvas é maior. A pupação na azeitona demora de 8 a 10 dias, contudo fora da mesma, no chão, pode levar 6 meses.
Adulto: A mosca da azeitona adulta é muito pequena, com aproximadamente 5 mm de comprimento e envergadura (distância entre as pontas das asas) de 10 mm. As asas são na maior parte transparentes, salvo uma mancha acastanhada nas extremidades. Seu tórax e o abdômen são marrons escuros com manchas amareladas. Possuem pelos curtos prateados. A fêmea possui um ovopositor serrilhado que é utilizado para perfurar a casca dos frutos durante a ovoposição.
Mais sobre as moscas adultas
As moscas adultas se alimentam substâncias ricas em nutrientes, como melada e excrementos de pássaros (Rice 2000).
Segundo Rice (2000), a fêmea da mosca pode por até 500 ovos em sua vida, que dura 6 menos. Em áreas quentes, e com alta disponibilidade de azeitonas, a mosca da azeitona pode produzir até cinco ou seis gerações por ano (Rice 2000).
Danos para olivicultura
Todo o dano se concentra na azeitona, sendo as demais partes da árvore insensíveis a presença da Mosca da Oliveira.
São dois os tipos de afetação:
- Quantitativo: Para azeitonas de tamanho grande, o volume consumido pela larva não é significativo, contudo, para azeitonas menores o percentual pode atingir 20% de toda polpa. Alguns locais responsáveis pelo processamento aceitam de até 4 % das azeitonas com apenas a perfuração feita pela mosca, entretanto quando observado o desenvolvimento da larva não há tolerância. Ainda sob o aspecto quantitativo, o desenvolvimento da larva corta canais vasculares dentro da azeitona, o que atrapalha seu amadurecimento e pode fazer a azeitona cair. O segundo caso é apontado como principal resultado de prejuízo quantitativo.
- Qualitativo: Quando ocorre a extração do azeite com parte das azeitonas contaminadas, os parâmetros físico-químicos são afetados, sendo observado aumento da acidez e índice de peróxidos, o que leva a redução do teor de antioxidantes naturais. Os canais criados pela larva da mosca provocam a entrada de oxigênio possibilitando, além da oxidação, a instalação de fungos e bactérias que apodreceram a azeitona. É óbvio que sob aspectos organolépticos o azeite produzido com azeitonas, mesmo que parcialmente afetadas, fica extremamente afetado. O armazenamento prévio da azeitona antes do processamento, além de não constituir uma prática de obtenção de um azeite de boa qualidade, agrava a degradação de todo o estoque.
Cultivares mais resistentes e os afetados pela Mosca da Oliveira
Os cultivares mais afetados são os que possuem destinação a produção de azeitona em conserva ou uso misto, tendo ambos um maior tamanho que os cultivares utilizados normalmente apenas para produção de azeite. Isso não significa que os cultivares voltados a produção de azeite não sejam afetados.
Não é claro, apesar dos estudos, quais cultivares são mais afetados independentemente do tamanho da azeitona, contudo é conhecido para vários cultivares o grau de resistência a propagação / infestação.
Abaixo apresentamos uma tabela com o grau de resistência de 102, com grau de importância 1 ou 2, já levantados pela Olivapedia.
Obs.: Quanto maior a resistência, que varia de 1 a 5, maior a dificuldade da disseminação da praga no cultivar.
Prevenção e combate
A maioria das ações de combate a Mosca da Oliveira (Mosca da Azeitona) se concentram no combate a própria mosca, ou seja, na captura dela. A aplicação de inseticidas nos frutos da oliveira contaminada é normalmente inócua, pois a penetração do inseticida fica aquém da área de trânsito da larva. Conforme visto na figura acima na seção sobre o ciclo de vida da Mosca da Oliveira. As armadilhas funcionam sobremaneira para observar a taxa de incidência da mosca na região.
As armadilhas para moscas
– As armadilhas para alimentos: muito utilizadas no passado com garrafas do tipo “Berlese” ou “Mac Phail” (com fundo de funil invertido e preparadas com soluções de carbonatos ou fosfatos de amônio a 3-5%). O negativo dessas armadilhas é o fato de não serem seletivas, contudo, eficazes em ambiente mais secos. Existem também as armadilhas “Pitfall”. As três, em suas diversas versões, são utilizadas no Brasil e em outros países para amostragem da fauna.
As armadilhas à base de iscas são mais confiáveis e econômicas. Contudo as cromotrópicas amarelas, com painel simples ou com septos cruzados, tipo Rebell, são ainda menos seletivas que as “Berlese”, “Mac Phail” ou “Pitfall”, logo quando utilizadas com densidades muito altas podem ter um impacto negativo na entomofauna auxiliar. A intervenção deve ocorrer quando ocorrer a captura superior de 5 fêmeas com ovários maduros.
Combate químico – agricultura convencional
Os princípios ativos atualmente admitidos para o combate ao larvicida B. oleae são os dois fosforânicos com ação citotrópica dimetoato e fosmet, e o neonicotinoide sistêmico, imidaclopride (a ser utilizado de acordo com as normas vigentes e normas de produção integrada). Como se sabe, o uso tradicional e generalizado do dimetoato (Rogor) deve-se à sua notável eficácia, acompanhada de baixa lipossolubilidade e, portanto, baixa residualidade no óleo. No entanto, os produtos fitossanitários contendo dimetoato foram recentemente revogados com base no regulamento da UE 2019/1090 e só podem ser usados até 17 de julho de 2020 (comunicado de imprensa do Ministério da Saúde, 24/07/2019).
Tradução livre do site: Consultoria Agronômica (http://www.consulenzeagronomiche.it/)
Combate químico – agricultura orgânica
Por outro lado, ingredientes ativos de origem vegetal, como piretrinas, podem ser usados.
Para combater o ataque da mosca da azeitona, são utilizadas formulações à base de cobre, sem que se tenha um conhecimento preciso dos mecanismos de ação, esta prática contribui também para o combate ao olho de pavão, à cercosporiose e à sarna da oliveira.
O caulim também é muito utilizado ֩ que tem um efeito repelente, o caulim é uma argila que forma um filme contínuo na superfície das azeitonas tornando-as menos adequadas para a oviposição. Devido a esta razão, é necessário distribuir o produto uniformemente.
Tradução livre do site: Consultoria Agronômica (http://www.consulenzeagronomiche.it/)
Controle biológico
Do site https://entnemdept.ufl.edu/creatures/fruit/tropical/olive_fruit_fly.htm – Tradução livre:
Muitos insetos têm sido investigados como potenciais agentes de controle biológico da mosca da azeitona. Daane e Johnson (2010) recomendaram um pequeno grupo de vespas braconídeos que parasitam a mosca da azeitona em sua área nativa. As espécies de braconídeos que parasitam a mosca da azeitona incluem Psyttalia lounsburyi, Psyttalia concolor, Psyttalia ponerophaga, Utetes africanus e Bracon celer, com abundância e eficácia parasitóides variando em diferentes localizações geográficas. Psyttalia concolor mostrou resultados mistos como um organismo de controle biológico após liberações destinadas a controlar a mosca da fruta do Mediterrâneo, Ceratitis capitata (Wiedemann) (comumente conhecida como Medfly), na Europa na década de 1950 (Nardi et al. 2003).
Muitas outras vespas parasitóides são encontradas em regiões onde a mosca da azeitona é considerada uma praga, mas muitas vezes não são suficientemente abundantes para fornecer controle. Insetos benéficos comuns como joaninhas (Coccinellidae) e crisopídeos (Chrysopidae) são ineficazes no controle da mosca da azeitona porque esses insetos atacam os estágios imaturos das pragas, que, neste caso, são sequestrados dentro de azeitonas em desenvolvimento (Nardi et al. 2003).
Esterilização das moscas machos:
A liberação de insetos estéreis foi proposta como um método eficaz e ecológico de controle da mosca da azeitona. Este método de controle envolve a criação e liberação de um grande número de moscas-das-frutas machos esterilizadas. Quando esses machos acasalam com moscas fêmeas selvagens, os ovos viáveis não podem ser produzidos. Assim, a próxima geração de moscas-praga é bastante reduzida. Com o tempo, isso poderia erradicar a população da praga. Liberações de insetos estéreis têm muitos benefícios; este método é específico da espécie, ambientalmente correto e relativamente rápido. As desvantagens dessa técnica estão na configuração inicial do programa, como garantir um local para criar as moscas, escolher um método de esterilização confiável e tempo de liberação das moscas (Ant et al. 2012). Além disso, as fêmeas que põem ovos estéreis ainda danificam os frutos com seus ovipositores. Esta técnica tem sido uma estratégia de gestão bem-sucedida para muitas pragas destrutivas, como a mosca da fruta do Mediterrâneo, Ceratitis capitata (Wiedemann), que pode causar danos generalizados devido ao seu comportamento de oviposição e gama de hospedeiros relativamente ampla.
Deixe seu comentário