Como associar as duas ideias: Japão e Oliveira. Difícil! Mas não apenas para quem está distante. Muitos orientais e até japoneses não sabem que o Japão produz azeitona de mesa e azeite…
Pedimos uma chance para que vocês acreditem.
Quando falamos de olivicultura no Japão, falamos de Shodoshima, cujo nome em tradução literal significa “Ilha dos Feijões Pequenos“. Não é o único lugar, mas é no Japão o lugar onde a olivicultura gera resultados de excelente qualidade, bem como pesquisas de para cultivo e desenvolvimento de novos cultivares ocorrem.
Shodoshima, é depois Awaji-shima, a maior ilha do mar interior no Japão. Também é a 19º maior ilha do Japão. Shodoshima tem uma área de 153,3 km² e uma costa marítima de 126 km e uma população fixa de 30 000 moradores (2018).
Possui uma infraestrutura desenvolvida com estradas e todas demais conveniências necessárias para o dia a dia. Contudo o mais importante: Também é conhecida como a ILHA DAS OLIVEIRAS.
A ocupação da ilha remonta, pelo menos, ao século III a.C. – Período Yayoi. A primeira atividade registrada é da produção de sal marinho. A ilha prosperou como “minashiro” (terra do imperador) e abrigou uma mansão de sal para a família imperial. Santuários também foram construídos.
A localização da ilha tem uma localização estratégica que possibilitou o desenvolvimento da pesca e da indústria naval.
Curiosidade: A ilha foi usada como suporte a operação de piratas no Mar Interior do Japão, também conhecido como “Seto”.
Posteriormente, no período Edo (1603-1868), a economia da ilha se desenvolveu baseada na produção de molho de soja e macarrão Somen (finos macarrões secos feito de trigo). Ainda hoje conhecidas especialidades de Shodoshima. Recentemente adicionou-se óleo de gergelim e azeite, o que ajudou a fortalecer e destacar Shodoshima com uma cultura gastronômica única.
Onde fica o Japão e Shodoshima
Culturalmente podemos achar estranho o cultivo de azeitonas no Japão, mas considerando a localização geográfica (latitude entre 30º e 45º norte) e a origem do solo: na maioria do território a origem é vulcânica, faz todo o sentido a olivicultura no Império do Sol Nascente.
Origem da cultura no Japão
Diz a lenda que o “Senhor da Guerra” (um tipo de general) Toyotomi Hideyoshi recebeu de presente do rei da Espanha, Philipp II, um tambor cheio de azeitonas salgadas. O presente era o reconhecimento ao esforço de Toyotomi, e mais dois “Senhores da Guerra”, ao bem sucedido processo de unificação do Japão. Isso teria ocorrido em 1594. Onde foram parar as azeitonas? Ninguém sabe.
Na sequência o Japão “fechou as portas” ao mundo exterior por mais de dois séculos: de 1603 a 1868. Período conhecido como “Edo”.
Bem mais adiante, um pouco antes do término do período “Edo” (em 1861), um médico do Shogum chamado Seii Taixogum (Comandante do exército) teve a oportunidade de conhecer a medicina ocidental. Este sugeriu no Japão que o azeite fosse utilizado de forma terapêutica. Assim foram importadas oliveiras da França, que plantas nas proximidades de Tóquio, não se adaptaram e acabaram abandonadas. Nunca produziram azeitonas.
Uma nova tentativa somente foi realizada em 1874 durante o período Meiji, com um Japão um pouco mais aberto. O fundador da Cruz Vermelha no Japão, transportou mudas da Itália e Grécia para Tóquio e para uma região a 500 Km ao sul de Tóquio. As plantadas próximo a capital mais uma vez não floresceram. Contudo as mais ao sul produziram as primeiras azeitonas do Japão.
Impulsos e retrocessos das Guerras
Em 1905, após a guerra Sino-Russa, o império russo teve de abrir mão de diversas ilhas que ainda hoje compõe o arquipelago japonês. Naturalmente a área de pesca aumentou junto com a necessidade de manter conservado o peixe pescado. O custo do azeite importado da europa inviabilizava essa operação, logo o Japão volta-se as experiências realizadas no passado.
Estudos e experiências realizadas indicaram Shodoshina como a melhor opção. Inicialmente também se considerou Mie e Kagoshima. Ou seja: a “indústria da Olivicultura” no Japão tem mais de um século de existência.
Com a segunda Guerra Mundial o Japão foi alvo de um plano de reconstrução e também ocorreu uma maior abertura para o ocidente. Através de acordos internacionais com grandes produtores, obtinha azeite importado a preços baixos. Contudo no início do século XXI, as instabilidades políticas mundiais e crises econômicas, aumentaram o valor do azeite para importação, o que fez com que o Japão voltasse mais uma vez ao aumento da produção interna e melhoria da qualidade.
Shodoshima é um local adequado à produção de azeitona, com o seu nível uniforme de sol, bom ar e baixa pluviosidade.
Atualmente
Hoje a ilha de Shodoshima abriga não apenas um “parque temático”, mas toda uma estrutura de pesquisa onde todos os aspectos da cultura, desde a criação de novos cultivares a colheita, passando por tratamento de doenças, estudo do solo e poda, são tratados.
No “Shodoshima Olive Park” os visitantes além de poderem conhecer a história das oliveiras e produção de azeite no Japão, podem caminhar por trilhas cercadas por oliveiras.
Há também um pequeno museu que ensina os visitantes sobre a história do cultivo da azeitona em Shodoshima, além de um restaurante, café e lojas onde você pode experimentar e comprar os vários produtos relacionados à azeitona, como azeite de oliva, doces de oliva, cosméticos de oliva, macarrão de azeitona e sorvete de azeitona.
Dificuldades da região
Um fazendeiro chamado Toyohiro Takao, que iniciou a cultura da oliveira em suas terras em 2008, prioritariamente com as variedades americanas Mission e Lucca, dá uma ideia do desafio em cultivar oliveiras em uma região onde elas não são nativas:
“Não cortamos ervas daninhas durante a estação das chuvas para ajudar a impedir a penetração de muita água no solo ou causar um deslizamento de terra no terreno montanhoso de Shodoshima.” Toyohiro fertiliza com uma mistura original de esterco, conchas de ostras, bagaço de azeitona e um composto à base de arroz e feijão “que eu colho para facilitar o nível de oxigênio da raiz, bem como para obter bactérias e estabilidade microbiana”.
“O Japão tem estação chuvosa, tufões e a umidade é extremamente alta no verão”, disse Toyohiro. “O que mais me preocupa é quando temos altas precipitações. Durante esta temporada, (as oliveiras) são mais propensas a ficar doentes, feridas e até uma árvore madura pode morrer. ”
(texto traduzido do site Olive Oil Times)
Os esforços do Sr Takao foram reconhecidos com o prêmio de Melhor Azeite Monovarietal do Hemisfério Norte no NYOOC (Competição de azeites de Nova York) – 2015. Azeite “Takao Nouen no Olive Hatake”.
A embalagem apela ao gosto japonês por objetos pequenos. O Takao Nouen no Olive Hatake é vendido em garrafas de 70 ml.
Talvez mais apropriadas a perfumes, em um vista ocidental.
Muitos outros prêmios foram obtidos pelos azeites japoneses, como descrito um pouco mais abaixo.
Cultivares
O Japão já possui registrados dois cultivares, a saber:
- Kan-lan (Olive Chinoise), referência a variedade aparece em torno de Tóquio.
- Mission Nain, referência a variedade aparece em En Kagawa – bacia no centro sul do país.
Ambos cultivares com baixo grau de importância. São destinados a produção de azeite e resultantes de experiências para melhorias das características de produção. Outras variedades com certeza surgiram das pesquisas no s próximos anos.
Os cultivares mais plantados na ilha são: Missão (EUA –Mesa/Azeite), Manzanillo (ESP – Mesa), Nevadillo Blanco d Jaén (ESP – Azeite) e Lucca (EUA – Azeite).
Cultura culinária para as gerações futuras
Enquanto parte da colheita e produção de azeite é vendida em pequenas garrafas, outra parte é utilizada, a exemplo do passado com frutos do mar, para alimentos tradicionais como pickels, tempura, conservas, etc.. Também são utilizados na fabricação de cosméticos. Conhecendo os bons produtos feitos com azeite, acreditamos que a os feitos com a qualidade japonesa devam ser incríveis.
Como a cultura foi introduzida na ilha desde 1908, logo é de se esperar que a mesma já faça parte do dia a dia da população. Tanto assim é que as escolas de ensino fundamental entregam a cada novo aluno uma muda de oliveira que deverá ser cuidada na casa deste. Essa tradição já dura mais de 50 anos. Além disso nas escolas o óleo utilizado na preparação das refeições é o da azeitona, tanto no ensino fundamental quanto no pré-escolar. O ensino médio participa da cultura com um concurso anula de culinária baseado no uso dos produtos da oliviera.
Por toda ilha podem ser avistadas oliveiras, praças, casa, ao longo das ruas… Não é a toa que a ilha recebeu o epíteto de Ilha das Oliveiras.
Hoje as azeitonas de Sodoshima são exportas por todo Japão.
Competições
Os azeites no Japão são atingem um percentual de sucesso muito alto em todas as competições das quais participam.
Usamos como referência o NYOOC por acharmos ser uma competição abrangente e com dados disponíveis de maneira simples.
Com exceção ao ano de 2016, o Japão obteve 100% de sucesso, com alguma premiação, em todos anos nos quais participou. Na média é uma taxa de 90%!
No Japão ocorre uma grande competição, a Japan Olive. Para mais informações, veja nossas publicações onde falamos das principais competições de azeite pelo mundo.
Produção e Consumo – Importação
As quantidades de azeite e azeitonas produzidas no Japão são muito pequenas. Na mesma linha as exportações são “particulares”.
Abaixo duas visões quanto ao mercado de azeite e de azeitona. Destacamos dois pontos a fim de justificar a coincidência do s valores apontados por ano. O primeiro é de que o consumo é praticamente todo de produtos importados. O segundo é que devido a estabilidade no número de habitantes (de 2010 a 2019 a redução prevista é de 1,7 milhões de pessoas) os valores percapita acabam acompanhando as mesmas curvas de consumo total.
Por questões geográficas o Japão certamente nunca será uma portência em termos de volume na produção de azeite e azeitona, contudo já demonstrou a capacidade de produzir excelentes produtos, e mais do que isso: Há séculos compreendeu o valor e a importância do azeite.
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