Plantar uma oliveira ou um olival é, antes de tudo, um ato de fé!!!
Apenas uma ação reduz o risco inerente a olivicultura: plantar onde no passado um olival tenha sido bem sucedido. No Brasil, contudo, isso não é algo muito fácil de se encontrar…
A incerteza quando se inicia uma plantação de oliveiras é significativa, mas isso não é exclusividade do Brasil. Mesmo no velho mundo sabe-se que duas oliveiras advindas de uma mesma matriz, contudo distantes de forma significativa, podem apresentar resultados muito diferentes.
Nosso objetivo é passar os parâmetros conhecidos para o melhor resultado e, em paralelo, compartilhar o que estamos fazendo em nossa plantação piloto. E, dessa forma, diminuir os riscos de insucesso no futuro. Mesmo assim, ainda há um agravante… um possível insucesso pode tardar vários anos até ser confirmado.
No artigo “Plantio – Parte I”, afirmamos que é possível plantar em regiões tropicais. Contudo, deve-se respeitar as exigências da cultura no que tange a faixa de temperatura, insolação e umidade…
Para começar…
Escolha da muda
Escolha mudas aparentemente saudáveis, sem manchas nas folhas, cochonilha ou com poucas folhas. Dê preferência a mudas bem enraizadas. As maiores, com as raízes bem cuidadas, darão uma resposta mais rápida após o plantio.
A escolha da muda oriunda de uma matriz segura – produtiva e sem doenças – é fundamental. A clonagem limita a diversidade genética, mas melhora as chances de bons resultados, após a longa espera natural do ciclo de frutificação das oliveiras.
Mudas oriundas de sementes são difíceis de se obter, e representam uma planta diferente das árvores originais.
Logo, recomendamos sempre a obtenção das mudas com procedência garantida, considerando que o objetivo seja a melhor produção possível.
Compasso para plantação
O compasso nada mais é que o distanciamento que se dá entre cada árvore. É medido entre as árvores de uma mesma fileira e a distância entre as fileiras. O objetivo é otimizar o espaço disponível, facilitando o trato do olival e a colheita.
Por exemplo, um compasso de 4 m x 6 m, significa que em uma fileira as árvores estão afastadas 4 metros, e as fileiras estão distantes entre si 6 metros.
No entusiasmo vivido à partir do ano 2000, muitas plantações foram realizadas sem o espaço adequado entre as árvores, ocasionando o encontro entre as copas, perda de produção e dificuldade na colheita. Hoje muitos olivais estão sendo reformados, tomando o distanciamento de 4 m x 6 m ou até 8 m x 8 m. Na Vila Oliva optamos pelo compasso de 7 m x 7 m.
Para definição do compasso também é preciso levar em consideração a variedade a ser cultivada. Árvores pequenas, como a Arbequina ou Sikitita, podem ter o compasso um pouco reduzido, mesmo quando não se pretende ter uma plantação intensiva ou superintensiva. Árvores muito vigorosas precisam de mais espaço e não aceitam bem uma “redução” forçada pela poda, pois reduzem significativamente a quantidade de ramos produtivos. Uma árvore vigorosa, que cresça livremente, pode chegar a mais de 20 metros de altura e sua copa a mais de 8 metros.
Via de regra o cultivo de um grande número de árvores por hectare reduz a produção unitária, o que é compensado somente por técnicas de cultivo e colheita específicas da cultura intensiva ou superintensiva, que otimizam os recursos da terra e implementos.
Em culturas superintensivas, com poda e colheita mecânica, a plantação se dá em sebe, e o compasso pode ser de apenas 1,5 m x 3 m. Os cultivares são de árvores pouco vigorosas, com controle de adubação muito rigoroso, mas via de regra com um longevidade pequena. A alta produção por hectare e a otimização dos recursos produtivos compensam a eventual renovação do olival. Mas esse não é o caso da cultura no Brasil.
Inclinação do solo
Um terreno plano é desejável em plantações intensivas e superintensivas a fim de viabilizar a utilização de equipamentos para cuidado da cultura e colheita. Também é bom quando há a necessidade de irrigação.
Um terreno com uma alta inclinação dificulta o trato e a colheita. Não é raro na Europa nos depararmos com oliveiras em terrenos acidentados ou com inclinações elevadas, mas são normalmente oliveiras antigas sem a finalidade de produção de azeitonas.
Um terreno com uma inclinação suave, até 20º, trás algumas vantagens. Por exemplo, a drenagem, uma questão muito importante para as regiões tropicais, bem como a facilidade de “descida” do ar excessivamente frio, em caso de geadas, no amanhecer. A exemplo dos aquecedores solares no hemisfério sul, que são voltados para o Norte, o ideal é que o terreno seja inclinado nesse sentido. Dessa forma, se aumenta ao máximo o número de horas de sol e o nível de insolação. O terreno da Vila Oliva é praticamente 100% voltado para o Norte, em uma inclinação máxima de 30º.
O solo
É de conhecimento amplo que as oliveiras detestam solo excessivamente úmido. Logo, um solo “humoso”, com alta concentração de material orgânico em decomposição pode ser ótimo para várias culturas, mas para as oliveiras é péssimo. Além de ser uma fonte de fungos aos quais a oliveira é sensível, dificulta a drenagem da água, o que pode levar ao apodrecimento das raízes – rizomas – e por fim a morte da árvore.
Outro solo que pelas mesmas razões também não é adequado às oliveiras é o argiloso. São exemplos de solos argilosos a terra roxa (boa para o café) e o Massapé.
De uma forma ampla, restam-nos o solo arenoso e calcário. Os extremos de ambos os casos também não são bons para as oliveiras, mas ainda assim são “menos piores”!!! Temos casos de oliveiras crescendo entre pedras, levando suas raízes a mais de 20 metros de distância. Assim como também temos relatos de uma Chemlali “gigante” a beira do deserto do Saara, na Tunísia, produzindo 800 quilos de azeitona por ano.
No Brasil são treze as classificações de solo (ordens), além das sub-ordens e sub-grupos. A EMBRAPA, em seu site, detalha cada um deles.
Os solos em regiões mais altas, onde é viável o plantio de oliveiras na região tropical, normalmente apresentam uma mistura muito variada de tipos de solo. Às vezes de difícil identificação para quem não tem experiência.
A recomendação europeia para escolha do solo parte de utilizar área bem sucedida outrora, descanso do terreno por três anos tendo eliminado a vegetação existente, dando tempo para que ela se decomponha. Nesse meio tempo, poderia-se plantar uma gramínea seguida de uma aração profunda… Como se o cultivo da oliveira e a obtenção dos seus frutos já não fossem demorados demais. Vamos tentar seguir um meio termo, sendo que as recomendações para temperatura e insolação já foram passadas no artigo Plantio – Parte I.
Escolha do cultivar(es)
Algumas variedades simplesmente não se adaptam a uma média de temperatura onde outros vão muito bem. Exemplo já dado sobre isso foi que no sul de Minas Gerais e no nordeste de São Paulo o cultivar Maria da Fé está fazendo a alegria de quem tem plantação acima de 1.700 metros de altitude. Abaixo dessa altitude ou os cultivares continuam esperando algum resultado, ou já começaram a arrancar as árvores.
A polinização é outro fator de suma importância para cultivares auto-incompatíveis, ou a fim de aumentar a produtividade de auto-compatíveis. No artigo Principais Oliveiras no Brasil, além das características também constam sugestões de polinizadores entre variedades. A polinização das oliveiras se dá pelo ar (vento), logo os cultivares não podem estar muito distantes. No máximo um afastamento da fileira, ou na mesma fileira.
Curiosidade: Devido ao enorme volume de oliveiras plantadas, a alergia ao pólen da oliveira é a terceira maior causa de alergia na Espanha.
Insolação
Algumas fontes citam no mínimo 6 horas de sol direto. No caso das oliveiras, quanto mais, melhor! Entre as latitudes 30º N e 30º S, os dias têm no mínimo 10 horas de sol, mesmo no inverno. Logo, o único risco é de falta de sol devido a sombra causada por relevo próximo ou outras árvores. É importante considerar que existe uma variação total de 47º entre a posição que o sol nasce no solstício de verão e de inverno. Um local com sol no verão, próximo a um obstáculo a luz, não será necessariamente iluminado no inverno, e vice-versa.
A falta de insolação em toda planta devido a densidade de sua copa é uma assunto tratado no artigo sobre poda.
Escoamento
- Cave uma cova de 50 x 50 x 50 centímetros no local pretendido. O mesmo tamanho que será utilizado para plantar a muda. Ou ainda cave tantas covas quanto julgar necessárias pela diferença de solo ao longo da extensão do terreno;
- Derrame água rapidamente (com uma mangueira de ¾ de polegada com bastante pressão ou um vasilhame maior que 75 litros).
Caso a água fique empoçada: Desista desse local! Caso água demore muito a escoar: Avalie um melhor local, ou a possibilidade de melhorar o escoamento (o que poderá ter um custo muito elevado).
Todos esses passos são preparativos a serem considerados antes da adubação do solo e correção do PH. Como a época indicada para plantio no Brasil é a primavera, de setembro a dezembro, a compra das mudas devem ocorrer somente ao final do inverno, início da primavera. O ideal é que permaneçam pouco tempo nas embalagens de cultivo e transporte.
Estamos quase plantando! No próximo artigo chegaremos lá.
Darci Norte Rebelo
18/08/2020 11:40Tenho uma area livre de 100 n x 50. Gostaria de fazer uma experiencia, sem intuito comercial, mas autosuficiente a medio ou long0 prazo. Que aconselha?
MAURO JOSE DE MENEZES
19/08/2020 12:49Olá Darci. Você passa mais informações sobre a área? Localização, drenagem, declive (orientação N, S, L ou O), etc.
Abraços.
Victor Faustino
25/11/2020 07:34Bom dia tenho uma area de 7000² localisada na zona centro tendo como projeto uma plantação de oliveiras biologico,gostaria de obter informações sobre este projeto e como procedêr ao mesmo,visto que o terrêno se encontra sem qualquer plantação a mais de 15 anos
MAURO JOSE DE MENEZES
25/11/2020 11:25Olá. Tudo bem?
Proponho de irmos conversando via email: [email protected].
Contudo adianto algumas perguntas: Qual o município? Qual a altitude? Qual o objetivo (azeitona de mesa ou para azeite, ou ainda ambos)?
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Olivapedia.