Foto de capa: Viveros Sophie
O que é
É uma doença que afeta diversas culturas, inclusive a das oliveiras e é causada por um fungo, o verticillium dahliae. Os principais sintomas são a descoloração das plantas e a torção de galhos.
A verticulose é considerada hoje uma das mais devastadoras doenças para as oliveiras. Nessa publicação veremos ações profiláticas e tratamentos das plantas infectadas.
Gravidade
Trata-se de uma doença grave que pode levar a morte de uma planta rapidamente. Diferentemente das outras duas doenças por fungos já publicadas pela Olivapedia:
DOENÇAS das Oliveiras: Tuberculose (Pseudomonas savastanoi) (olivapedia.com), e
DOENÇAS das Oliveiras: Repilo Plomizo – Cercosporiose (Pseudocercospora cladosporioides) – OLIVAPEDIA
O fungo do Verticulite não age de maneira “tópica” (a partir da superfície dos tecidos vegetais como folhas e frutos). O fungo penetra na planta pelo seu sistema de nutrição, ou seja: das raízes se espalham pela planta.
Classificação do Verticillium dahliae
Reino: Fungi / A semelhança com o fungo que causa a “Tuberculose” termina aqui.
Filo: Ascomycota / A semelhança com o fungo que causa a “Cercosporiose” termina aqui.
Subclasse: Hypocreomycetidae
Ordem: Hypocreales
Família: Incertae sedis
Gênero: Verticillium
Espécie: Verticillium dahliae
Nome binomial
Verticillium dahliaeKleb., (1913)
Sinônimos
- Verticillium albo-atrum var. chlamydosporale
- Verticillium albo-atrum var. dahliae
- Verticillium albo-atrum var. medium
- Verticillium dahliae f. chlamydosporale
- Verticillium dahliae f. medium
- Verticillium ovatum
- Verticillium tracheiphilum
Observação: Algumas fontes informam os sinônimos acima, contudo nem todos se aplicam com veremos logo abaixo.
Um parente próximo
Existe um fungo que é muito parecido, inclusive citado acima com um sinônimo do Verticillium dahliae. É tão grave quando o V. dahliae, tendo como diferença a forma de dormência. O nome binominal é: Verticillium albo-atrum Reinke & Berthold (1879).
Descrição da diferença na dormência entre os fungos pelo site Wiley Online Library (url: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1365-2338.2007.01160.x, publicado em 07 de dezembro de 2007, acessado em 05/05/2022):
V. albo-atrum e V. dahliae estão intimamente relacionados e geralmente distinguidos pelas estruturas de repouso produzidas (micélio em repouso escuro e microescleródios, respectivamente). Ambas as espécies ocorrem em muitas plantas herbáceas e lenhosas, além do lúpulo, em grande parte das regiões temperadas e subtropicais. Alguma especialização do hospedeiro é conhecida, mas, em geral, os isolados de ambas as espécies têm ampla gama de hospedeiros e não há evidências moleculares ou morfológicas de que ‘cepas de lúpulo’ formem grupos discretos dentro da espécie. No entanto, em termos de variação de patogenicidade em V. albo-atrum e V. dahliae, é necessário mais conhecimento sobre interações hospedeiro/patógeno e resistência do hospedeiro e, até que mais estudos estejam disponíveis, cada isolado deve ser considerado em grupos específicos de hospedeiros.
Ainda segundo o site Wiley Online Library:
Muita literatura antiga não distinguia as duas espécies, usando apenas o nome V. albo-atrum, embora alguns autores distinguissem isolados de V. dahliae como formas ‘microsclerotial’ ou ‘sclerotial’ de V. albo-atrum . Muitos outros nomes de formas e variedades têm sido comumente usados, mas nenhum é de uso geral, exceto o seguinte. V. dahliae var. longisporum Stark (1961) tem conídios mais longos do que a maioria dos isolados, mas está quase inteiramente confinado a hospedeiros Crucíferos e foi proposto como a espécie separada V. longisporum ( Karapapa et al ., 1997 ). V. albo-atrumfoi dividido em dois ‘grupos’ (Robb et al ., 1993 ): os isolados GrpI são os mais comuns e incluem todos os encontrados no lúpulo; Os isolados de GrpII são morfológica e molecularmente distintos dos isolados de GrpI, estão particularmente associados à batata e são mais bem considerados como formando uma espécie separada (mas ainda não foram formalmente descritos como tal)
Vamos dar continuidade nessa publicação tratando apenas do Verticillium dahliae, pois é o que se tem sido observado como patógeno para oliveiras. Além disso, exceto a forma de dormência, os demais aspectos são similares.
Plantio em um terreno limpo
É bastante difícil garantir que uma área esteja livre do V. dahliae, pois o MS (microescleródios: estrutura de resistência dos fungos), pode permanecer no solo por longos períodos. Alguns estudos da EMBRAPA citem 8 anos. O V. dahliae também pode permanecer na planta hospedeira sem manifestar sintomas, contudo é possível tratar o solo antes do plantio, como veremos mais à frente.
Identificação de terreno contaminado
A verticulite é uma doença amplamente distribuída pelo mundo, com efeitos devastadores. Novas tecnologias de detecção e diagnóstico têm sidodesenvolvidas e implementadas, complementando e aprimorando as abordagens já disponíveis e principalmente baseadas em diferentes procedimentos baseados em PCR (métodos que dependem da reação em cadeia da polimerase -PCR- para amplificar trechos de DNA criando muitas cópias idênticas ou quase idênticas. Por exemplo, a amplificação por PCR pode ser usada para isolar a sequência em um local específico no genoma (genotipagem). Contudo por questões relacionadas ao custo de implantação da tecnologia, logo a tecnologia é aplicada apenas por grandes agricultores, e em países cujo método está disponível.
O método ainda mais empregado é a observação dos sintomas causados pela verticulite, sendo que, como já comentado, o fungo pode estar hospedado sem manifestar sintomas. Outra dificuldade é que manifestação da doença é semelhante a outros fatores bióticos e abióticos.
Uma maneira bastante peculiar de detecção é através da utilização de cães treinados para detectares os compostos orgânicos voláteis oriundos do metabolismo dos fungos. Mesmo com taxas muito baixas dos voláteis, impossível pela detecção humana, os cães forma capazes de identificar a doença com sucesso de 97%. Em ambiente controlado o sucesso foi de 95%, ou seja: detecção de 19 dentre 20 oliveiras contaminadas (artigo de Nuria Montes-Osuna e Jesus Mercado-Blanco, publicado em MDPI em 20 de junho de 2020 – Acessado em 04/05/2022).
Como ocorre a contaminação da planta
O fungo entra no organismo vegetal através da raiz e contamina a planta através do mesmo órgão que a nutre com água e substâncias inorgânicas, os vasos xilema.
Epidemiologia, sintomatologia e estragos / prejuízos
A Verticilose nas oliveiras está presente em todo Mediterrâneo, bem com demais áreas de cultivo de oliveiras, inclusive no Brasil.
As culturas intensivas e superintensivas são elementos de aumento e resistência da doença, pois o solo além de permanentemente ocupado, mantém uma menor área de exposição ao sol.
O fungo, Verticillium dahliae , pode atacar uma grande variedade de espécies, desde lenhosas (frutíferas e florestais) a herbáceas (hortícolas e ornamentais).
O Verticillium dahliae (fungo) produz um micélio hialino (semelhante ao vidro; transparente – translúcido). No micélio encontram-se os conidióforos (produtor ou condutor dos conídios (espório assexual, produzido por abstrição, gemação ou septação, da ponta de um conidióforo).
A estrutura do fungo é bastante resistente, pois apesar de ser encontrado próximo a superfície da terra, já forma encontrados a um metro de profundidade.
A doença pode afetar toda a planta ou apenas a alguns ramos. O aparecimento dos sintomas ocorre de maneira rápida. A madeira adquire uma cor arroxeada, que progride desde o extremo até à base. Dependendo da época do ano e regime climático, os sintomas podem surgir de forma lenta com os ramos começam a secar a partir das pontas. As inflorescências secam e as folhas ficam com um tom verde marrom, caindo antes mesmo de secarem totalmente. Os rebentos ficam de cor parda avermelhada e o seu interior (xilema) fica com coloração castanha escura.
Para invadir com sucesso o hospedeiro, o patógeno deve primeiro superar uma barreira de defesa física composta de lignina, um componente importante da parede celular da planta, e suprimir a atividade de metabólitos secundários e compostos antimicrobianos liberados pelo hospedeiro como parte da resposta de defesa contra o invasor. Portanto, a produção de enzimas que degradam a parede celular é um dos fatores de patogenicidade que contribuem para a murcha de Verticillium. Uma vez que o patógeno é capaz de superar a camada de defesa mecânica das raízes, ele invade os vasos do xilema, prejudica o transporte de água e causa a síndrome típica da murcha, com sintomas como senescência precoce, clorose, necrose, desnutrição, desfolha e, em alguns casos, a morte da planta. (Site do MPDI, url: https://www.mdpi.com/2223-7747/9/6/735/htm, acessado em 04/05/2022)
A dispersão do fungo pode dar-se por muitos processos, dentre eles: plantio em solo contaminado, feridas nas raízes das plantas, utilização instrumentos de poda contaminados, pela água de rega caso tenha passado por terreno contaminado, através de aplicação ou utilização de material vegetal infectado, folhas infectadas podem ser transportadas pelo vento e etc..
Pontos críticos
Tal como para qualquer fungo, a propagação do fungo Verticillium dahliae é facilitado pela humidade e temperatura. Logo em olivais com alto grau de umidade, ou excessivamente regado. A temperatura de 20º a 25ºC na primavera e verões na faixa de 30º a 35ºC é o ideal para a propagação do fungo. Plantações intensivas, ou superintensivas são mais susceptíveis ao ataque do fungo.
A escolha do local de plantio de e considerar também qual cultura ocupava o terreno anteriormente, posto que algumas são mais susceptíveis a infestação do Verticillium dahliae, e o fungo sobrevive longos períodos no solo (inóculos aguardando as condições adequadas a proliferação). Deve-se ter atenção especial caso tenha ocorrido plantação prévia de espécies da família das solenáceas, como por exemplo: batata (Solanum tuberosum), tomate (Solanum lycopersicum), tabaco (Nicotiana tabacum), pimentos e pimentões (Capsicum sp.) e ornamentais como Petunia, Schizanthus, Salpiglossis e Datura. Essas são as espécies mais comuns, mas existem muitas outras :são 7 subfamílias e aproximadamente 150 gêneros.
As plantas serão mais susceptíveis a infestação quando mal-nutridas. Apesar do fungo poder infectar até plantas com mais de 50 anos, o mais observado é a ocorrência em oliveiras entre 3 e 10 anos de idade.
Dentre as ações que mais podem facilitar a infecção de uma planta é o ferimento da raiz em caso de um manejo (mobilização) no solo inadequada.
Combate e proteção contra a Verticulite
Devido as características epidemiológicas do fungo V. dahliae, conforme já comentado acima: longevidade no solo e infectar a planta não pelas folhas, frutos ou galhos, mas sim através das raízes ficando hospedado no sistema vascular da planta, o combate ao mesmo é extremamente difícil.
A primeira orientação para áreas já plantadas é a utilização de água para irrigação no mínimo necessário.
Não existem produtos registrados e autorizados para seu combate e prevenção. Os fitofarmacêuticos existentes autorizados para o seu controle são todos como ação preventiva no solo. Algumas medidas são adotadas como meio de reduzir a densidade e dispersão do fungo no solo.
A utilização de cultivares mais resistentes ao V. dahliae é um consenso em todos os meios de pesquisa especializados no assunto.
Estando a planta já contaminada, é possível tentar prolongar a vida dela com a poda dos ramos mais afetados e a DESTRUIÇÃO dos ramos e galhos podados: nunca enterrar ou utilizar como produto de compostagem. A destinação plantas inteiras deve ser a mesma, deixando a cova de onde foi arrancada exposta ao sol por muito tempo.
A limpeza das ferramentas utilizadas nas podas é fundamental, mesmo que exista o julgamento que as plantas podadas na sequência possuam a mesma patogenia.
Limpeza das ferramentas
As ferramentas devem ser limpas e desinfectadas entre cada planta. Há algumas opções no mercado de produtos para esse fim, mas duas soluções caseiras eficazes são a imersão das ferramentas em uma solução a 10% de alvejante (base de hipoclorito de sódio), por no mínimo 30 segundos. Outra opção é a utilização de álcool 70% , que pode ser via spray, o que além de mais prática ter menor ação corrosiva nas ferramentas.
Os cortes também devem ser desinfectados com o produto já utilizado no olival: cal virgem, própolis, canela, etc..
Tratamento do solo
1 – Aquecimento: A medida mais efetiva para combate a V. dahliae é tentar eliminá-lo no solo sem cobertura. Em condição de boa insolação, os microescleródios e fungos são eliminados até uma profundidade de 15 cm onde encontra-se a maior concentração do patógeno, mas insuficiente para garantir a extinção dele, posto, como já dito, que já foram encontrados a um metro de profundidade.
2 – Ozonização da água de rega: existem algumas citações quanto a utilização de ozônio gasoso e do óleo ozonizado. Os resultados parecem promissores, mas sem uma conclusão definitiva. Para saber mais:
3- Existem referências de que fungicidas atenuariam ou até acabariam com o fungo no solo, mas não localizamos nenhuma garantia de que isso ocorra eficazmente.
Fosfito de potássio
O fosfito de potássio presente em alguns fungicidas foi alvo de um estudo em 2006 por um grupo de pesquisadores brasileiros (Pedro Martins Ribeiro Júnior, Mário Lúcio, Vilela de Resende, Ricardo Borges Pereira, Fábio Rossi Cavalcanti, Daniel Rufino Amaral e Moisés Antônio de Pádua), todos da Universidade Federal de Lavras/UFLA, contudo o estudo era sobre a atuação em solo contaminado plantado com mudas de cacaueiro:
“Fosfito de potássio na indução de resistência a Verticillium dahliae Kleb., em mudas de cacaueiro (Theobroma cacao L.)”.
Para saber mais:
Cultivares mais resistentes
Conforme catálogo de cultivares já pesquisados pela OLIVAPEDIA, abaixo uma classificação de resistência do cultivar ao V. dahliae, sendo que “5” trata-se de um cultivar muito resistente, e “1” muito pouco resistente.
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