Já abordamos questões relacionadas à escolha da muda, drenagem do solo, insolação, temperatura e um pouco sobre polinização. Porém ainda falta abordar muitos aspectos…
Um dos aspectos mais importantes é a presença de nutrientes do solo. É a partir destes que a árvore vai crescer, criar resistência a algumas doenças, produzir uma rede radicular adequada, acumular nutrientes para a florada e a frutificação, etc.
Nesse texto abordaremos apenas aspectos da adubação do solo para o plantio. Em futuras publicações, trataremos de cuidados com o plantio nas fases de crescimento, manutenção e frutificação.
Então, vamos finalmente colocar a mão na massa, ou melhor… na terra!
PREPARANDO O SOLO
Análise de laboratório
Recomenda-se fazer o teste do solo, em quantidades proporcionais ao tamanho do terreno, pelo menos 2 vezes ao ano, bem como antes de iniciar o plantio.
Para testar:
- Se você já fez a cova para o teste de escoamento (conforme explicado na publicação “Quase plantando“), antes de molhar, retire de uma das paredes uma “fatia terra” de 20 a 30 cm de profundidade a partir da superfície, com aproximadamente 2 cm de espessura e 15 cm de largura;
- Coloque em um saco plástico identificando o local;
- Envie para a EMATER ou uma cooperativa de produtores rurais que você conheça e eles providenciarão o envio do material para um laboratório.
Alguns produtores têm dispensado a análise de solo – pelo menos com a frequência recomendada – e feito correções com base em sua experiência e observação da reação das árvores. Outros, ainda, têm feito experiências empíricas, baseadas em outras culturas, plantios europeus, ou ainda acumulando conhecimento para buscarem resultados significativos. Não localizamos estudos comparativos de um acompanhamento, mas há de se considerar dois pontos:
- Não é possível “adivinhar” a composição do solo e sua variação ao longo do tempo, em função do consumo de nutrientes pelas árvores;
- O solo do Brasil é muito diferente dos das regiões tradicionais de cultivo – muitas vezes com forte influência de rochas vulcânicas, que geram maior concentração de magnésio, enxofre, etc. Desta forma, é muito provável que, no Brasil, sempre serão necessários complementos na terra.
Como fazemos na Vila Oliva
Resultado em crescimento das Oliveiras na Vila Oliva
A estratégia adotada na Vila Oliva é seguir o “caminho do meio”. Fornecermos o máximo de subsídios para que as mudas cresçam da melhor possível. Fazemos o controle do PH com calcário dolomítico, que também já fornece magnésio ao solo. Fazemos controle de umidade do solo, e fornecemos nitrato, fósforo e potássio de maneira “abundante”.
A partir dos 3 anos, o controle será “baseado” na análise do solo, pois alguns elementos como boro e enxofre devem ser dosados com cuidado.
Evitamos o uso de produtos químicos. Somente a alimentação do gado, cujo esterco é utilizado para adubação, é que foge ao nosso controle.
CADA ETAPA DO CRESCIMENTO E PRODUÇÃO EXIGE UM NUTRIENTE DIFERENTE.
A seguir falaremos do que é necessário para plantar a muda no local escolhido, conforme nossas publicações anteriores: Plantio – Parte I e Parte II. Os detalhes de qual nutriente é necessário em qual período de crescimento e de produção serão abordados em uma publicação específica.
Primeiro e mais importante aspecto: PH
Quanto menor o PH, que pode variar de 1 a 14, maior a acidez. Logo, uma acidez alta significa um resultado de PH baixo. Em solos com PH igual a “4” as plantas não conseguem absorver os nutrientes do solo.
Existe uma tabela que define a capacidade de absorção de cada nutriente em função do PH da terra. É uma tabela “média” e varia conforme a espécie e variedade vegetal.
PH | 4,5 | 5,0 | 5,5 | 6,0 | 6,5 | 7,0 | |
PERCENTUAL DE ABSORÇÃO DOS NUTRIENTES BÁSICOS | NITROGÊNIO | 20% | 50% | 75% | 100% | 100% | 100% |
FÓSFORO | 30% | 32% | 40% | 50% | 100% | 100% | |
POTÁSIO | 30% | 35% | 70% | 90% | 100% | 100% | |
ENXOFRE | 40% | 80% | 100% | 100% | 100% | 100% | |
CÁLCIO | 20% | 40% | 50% | 50% | 83% | 100% | |
MAGNÉSIO | 20% | 40% | 50% | 80% | 80% | 100% | |
MÉDIA | 27% | 46% | 64% | 78% | 94% | 100% |
Além da variedades das espécies, outros fatores interferem na capacidade de absorção de nutrientes. Contudo, de uma maneira geral, por exemplo, se gastarmos R$ 1.000,00 com fertilizantes em uma plantação cujo PH se encontra em “5”, significa que R$ 540,00 não foram aproveitados.
Logo, a correção do PH deve ser nossa preocupação número UM antes de plantar.
Os solos brasileiros são normalmente ácidos, com PH baixo, ou seja: a terra é normalmente ácida.
O PH ideal para as oliveiras é de 6,0 +/- 1,0. Logo, a interpretação da tabela “PH do solo x Absorção de Nutrientes” é um pouco diferente para as oliveiras, pois elas são ligeiramente mais tolerantes a acidez do solo. Tão logo consigamos estudos e acompanhamentos práticos de uma tabela de absorção de nutrientes pelas oliveiras, considerando o PH do solo, disponibilizaremos em uma publicação complementar.
Correção e adubação do solo – Antes do plantio
Considerando uma muda de até 1 metro de altura, abra uma cova de 50 cm de largura, comprimento e profundidade. Pode parecer exagero, mas fornecer aos rizomas e raízes em formação um terreno de fácil crescimento é muito importante. Considere aumentar o tamanho da cova caso o torrão da muda já tenha mais da metade das dimensões da cova.
Em cada cova “padrão” (50 cm X 50 cm X 50 cm) espalhe 200 g de calcário dolomítico. Na terra que saiu da cova, misture mais 200 g de calcário dolomítico. Deixe descansar por no mínimo 3 semanas. Em outras culturas, e até mesmo em cultivos de oliveiras intensivos e superintensivos, realiza-se a calagem, com ou sem arado, aplicando em média uma tonelada de calcário por hectare. Contudo, considerando o espaçamento entre os pés de oliveira no plantio tradicional, seria um desperdício. O acompanhamento do PH indicará os complementos necessários.
Exemplo de plantio superintensivo por cortesia de www.elolivarsuperintensivo.com e www.agromillora.com.
A principal função do calcário é regular o PH da terra. O dolomítico, especificamente, já fornece o magnésio, normalmente pouco presente nos solos brasileiros. Além disso, neutraliza o alumínio trivalente, que é tóxico para as plantas.
O que fazer quando não houve análise previa do solo?
Junto a aplicação do calcário também é importante a aplicação de fósforo, no formato de fostato – que antes de promover a floração, ajudará no crescimento das mudas. A quantidade dependerá do produto que estiver utilizando: “NPK”, “supersimples”, “termofosfato”, etc. Existem ótimas opções do termofosfato que permitem a liberação de fósforo de maneira gradativa, atingindo camadas mais profundas da terra.
Se a análise do solo não foi realizada, considerando um produto em pó, pode-se aplicar (um produto em pó, como o “supersimples”)100 g na cova e misturar mais 100 g na terra que será utilizada para plantação da muda.
Além do indicado acima, o fornecimento de nitrogênio pode ocorrer com material orgânico previamente decomposto. Esterco de bovino é uma excelente opção, após fermentado, ou seja: não pode estar quente. A quantidade deve ser aplicada de forma gradativa, a fim de acompanhar a variação do PH que tende a baixar com o excesso de esterco. Agregue 200 g na terra que entrará na cova.
Poderíamos indicar potássio, enxofre, gesso agrícola… Mas os componentes acima são mais que o suficiente para o crescimento da muda nos dois primeiros anos, exceto se estiver plantando em um terreno tão pobre que nada mais cresça.
Após o período de estabilização do calcário e do fósforo, preencha a cova até o limite da profundidade da raiz da muda. Coloque a muda e pressione somente o suficiente para mantê-la posicionada no centro da cova, complementando com o resto da terra adubada.
Estaca e identificação
A estaca é uma boa solução para demarcar a posição da muda e protegê-la de “acidentes” que a tombe. Também pode ser usada para a identificação prévia do “indivíduo”. Na Vila Oliva utilizamos nomes, mas normalmente observamos números que indicam o cultivar, data de plantio e tudo o mais o que se quiser associar.
Água
É fundamental fornecer água no início do enraizamento, sem ensopar o solo. Logo, na região sudeste do Brasil, a prática é realizar a plantação entre os meses de setembro e dezembro, pois são meses com maior incidência de chuva.
Vento
A estaca já fornece alguma resistência extra para a muda contudo, em casos muito severos, recomenda-se envolver a muda com uma proteção até que ela esteja resistente o suficiente.
Limpeza do terreno
O mato é um grande ladrão de nutrientes, especialmente de nitrogênio. Mas, ao ser cortado, poderá servir para forrar o chão (com o cuidado de não depositar sementes), devolvendo nutrientes à terra e reduzindo a velocidade de crescimento de novas plantas inconvenientes. Para a vegetação (mato) que estiver com o enraizamento muito profundo, é conveniente que seja arrancada totalmente, e não apenas roçada.
Linhas de plantação
Algumas plantações localizadas em terrenos de grande inclinação não são feitas em curva de nível. Pelo contrário. As mudas ficam alinhadas com a inclinação do terreno. A finalidade é viabilizar o tratamento e colheita mecanizada, porém o solo não pode estar “solto”. Nesse ponto é importante manter as raízes de gramíneas ou outra vegetação rasteira a fim de se evitar a erosão. Nesse caso, o trabalho de roçar ocorrerá de forma mais repetitiva até o crescimento das oliveiras.
Agrofloresta
Esse ponto é muito significativo para quem pretende fazer uma plantação orgânica, ou o mais próximo desta.
A manutenção da mata nativa tem algumas vantagens:
- As oliveiras não sofrem ataque de pragas presentes na vegetação nativa;
- A umidade do solo fica mais “estabilizada”;
- Manutenção da cadeia trófica, onde moscas, larvas etc. são consumidas pelos animais que permanecerão na área;
- Devolução de nitrogênio ao solo na decomposição natural de folhagens.
A desvantagem desta prática é o aumento do custo da produção devido a redução da área utilizada e da sinergia na utilização dos recursos.
Experimentos na Vila Oliva
Na Vila Oliva testamos a plantação de leguminosas (feijão) junto às oliveiras. A resposta, aparentemente, é positiva. O próximo passo é adotar um plano mais ousado: plantar espécies intercaladas com as oliveiras, mas sem prejudicar a insolação.
Uma das nossas experiências será com o feijão guandu, que possui alta capacidade de captar nitrogênio da atmosfera. A poda permanecerá no local forrando o solo e não haverá exploração da produção dos grãos, o que fará os nutrientes voltarem a terra. Não apenas o nitrogênio, mas também o fósforo, potássio, enxofre, zinco, cálcio e magnésio.
Sandra Tavares
20/04/2021 17:04Muito boas as matérias! Leitura fácil, como se estivéssemos falando com o compadre!
MAURO JOSE DE MENEZES
21/04/2021 09:40Poxa! Obrigado!!! 🙂