ONDE PLANTAR

Antes de tudo há se considerar a capacidade de adaptação das árvores, ou ainda a incapacidade de adaptação de um cultivar criado para atender uma “localização” ou um processo produtivo específico. Eliminando uma possível afeição pelas oliveiras e uma expectativa reduzida quanto a produção, é fundamental o alinhamento do objetivo, cultivar e local.

Quando falamos de uma espécie com mais de 2.000 cultivares catalogados (aproximadamente 700 cultivados), podemos concluir que não conhecemos todas as possibilidades da cultura. Lembrando ainda que novos cultivares surgem de tempos em tempos.

Uma variedade não testada em um local (solo, clima, insolação) pode demorar mais de 6 anos para apresentar um diagnóstico de viabilidade. Na teoria e nas tabelas dos consultores tudo se resolve com aditivos e defensivos químicos, mas sem garantias… Uma plantação ostensiva nessas condições pode causar um grande prejuízo. Uma plantação experimental, com poucas unidades, pode atrasar por mais de uma década uma produção desejada.

Nosso objetivo nesse blog é apresentar o cenário sob diversas abordagens e as características dos elementos que o compõe. Do cultivar ao tipo de adubo adequado. Da poda ao grau de umidade correto para cada fase do ciclo de produção, passando por correção do solo, combate a pragas, compasso por cultivar, métodos de polinização, colheita, extração, preparo do azeite e azeitona de mesa…

Mas, afinal, “onde” é dito que deveríamos plantar e onde, efetivamente podemos, plantar?

Visão Clássica

O cinturão do globo terrestre localizado entre as latitudes 30º e 45º N, foi onde surgiu a “domesticação” da olivicultura e, principalmente, onde ocorreu toda sua evolução ao longo da história. Ainda hoje, é neste cinturão que ocorre a maior parte da produção mundial de azeites e azeitonas.

Ao longo da história, com o processo de disseminação da cultura européia pelo hemisfério Sul, o  cinturão entre as latitudes 30º e 45º S também passou a ser considerado adequado para a olivicultura.

Regiões para cultivo de oliveiras

Mapa mundi com faixas para cultivo de oliveiras

Brasil

Se levarmos em consideração a visão clássica, nos restaria “pequeno” território, ao sul do Rio Grande do Sul, abaixo de uma linha entre Uruguaiana e Porto Alegre. De fato, na região abaixo da latitude 30º S, no Rio Grande do Sul, é onde existe a maior concentração de olivais brasileiros. A saber: Bagé, Dom Pedrito, Caçapava do Sul, Cachoeira do Sul, Alegrete, Rosário do Sul, Candiota, Cacequi e Santana do Livramento, São Gabriel, Uruguaiana, Candelária, Viamão, São Francisco de Paula (exceção), Rio Grande e Jaguarão.

Mapa Brasil - Área plantio

Comparação da Produção Hemisfério Norte x Hemisfério Sul

A despeito da viabilidade climática do cinturão Sul, a história ainda fala mais alto. Devido a cultura possuir ciclos lentos de desenvolvimento, além de ajustes e adequações dos olivais, a participação do hemisfério Sul na produção mundial ainda é irrisória.

Dentre os outros 12,1%, abaixo estão destacados alguns países produtores de azeite no hemisfério Sul e sua participação no mercado mundial, em 2017.

PAÍS PARTICIPAÇÃO
Argélia 2,48%
Líbano 0,98%
Argentina 0,85%
Austrália 0,83%
Egito 0,79%
Jordânia 0,79%
Palestina 0,77%
Chile 0,75%
Outros 3,91%

CÉLULA DE HADLEY

Existem três “conjuntos de células” de circulação atmosférica – Ferrel, Polar e Hadley. Eles compõe um sistema de movimentação de massa de ar e umidade na troposfera (camada de ar onde habitamos). Cada célula ocorre tanto no hemisfério Norte quanto no hemisfério Sul. As duas células de Hadley começam na linha do equador e estendem-se até 30º Norte e Sul.

Como Funciona e Suas Consequências

O sol esquenta a superfície da Terra e ocorre a reflexão, esquentando o ar (Albedo) e logo, o ar aquecido sobe.

A Linha do Equador é o local onde ocorre a maior incidência média de raios solares. Desta forma, é o lugar onde o ar mais “sobe”, arrastando consigo a umidade.

No lugar do ar que sobe, correntes próximas a superfície terrestre deslocam-se em direção a Linha do Equador, carregando consigo a umidade obtida da evaporação dos oceanos e vegetação.

O ar que subiu devido ao Albedo, após certa altitude, começa sua jornada em direção a latitude de 30º. Ao longo do caminho perde a sua umidade em forma de precipitação e começa a esfriar. Assim, quando volta a atingir a superfície terrestre, em uma descida gradual, o ar está “seco”.

Eis o por que da maioria dos desertos encontrarem-se próximos a latitude de 30º.

Mas, Nem Tudo Está Perdido… Pelo Contrário!!!

Há de se considerar os mesoclimas, onde os cultivos serão bem sucedidos e, talvez, até com alguma vantagem.

A maioria das plantações brasileiras, que estão fora da região clássica, ocorrem em regiões altas, com regime climático muito diferente do esperado para a latitude. Nessas regiões, as condições tidas como básicas de temperatura e insolação são facilmente superadas. Além disso, outra vantagem dos cultivos brasileiros é a não ocorrência de temperaturas danosas às oliveiras (abaixo de -7º C).

Fazenda Ouro Verde

Faz Ouro Verde em São Bento do Sapucaí – SP

Condições Básicas de Temperatura e Insolação

TEMPERATURA

Duzentas (200) horas abaixo de 12º Celsius por ano. Em Maria da Fé, no Sul de Minas, na Serra da Mantiqueira, entre 17/05/2017 e 16/05/2018 foram registradas mais de 1.900 horas de temperaturas abaixo de 12º C. Entretanto, a menor temperatura registrada foi de -0,8º C, bem acima no mínimo prejudicial às oliveiras. Observação: Existem olivais onde o número mínimo de horas de frio não é alcançada. Por exemplo em algumas regiões do Peru, contudo, mesmo com muito esforço a produtividade é muito baixa, e apenas alguns cultivares conseguem se adaptar, por exemplo a Koroneiki grega e a Arbequina espanhola.

INSOLAÇÃO

Acima de 2.500 horas de pleno sol por ano. Esse ponto é facilmente superado em qualquer ponto do Brasil, bem como diversas regiões do mundo com latitudes abaixo de 45º.

TEMPERATURA DE RISCO

A partir de -7º Celsius, de forma prolongada. Nessas condições, as oliveiras podem perder grande parte de sua capacidade vegetativa. Podem inclusive morrer. Não ocorre no Brasil, ao menos em áreas cultiváveis.

O Brasil está longe de possuir um plantio ostensivo ou produção em escala industrial, logo não há de se falar agora em cultivo intensivo. Até seria possível, dado que houvesse o investimento adequado, uma vez que o país possui uma diversidade geográfica que permite afirmar que não faltam locais ótimos para a olivicultura!

Então… qual(ais) oliveira(s) escolher?

No Brasil existe uma consenso muito forte com relação a Arbequina. Outras variedades também estão sendo bem sucedidas, mas não de forma unanime. Por exemplo: A Maria da Fé, originária da Galega Portuguesa, tem dado bons resultados apenas em uma altitude superior a 1700 metros,  entre o sul de Minas e São Paulo. Entretanto, em três olivais visitados na região, localizados abaixo de 1.700 metros, a permanência do cultivar está ameaçada.

Em outros artigos, abordaremos todos os pontos que julgamos relevantes, tais como preparo do solo, irrigação, poda, etc. Inclusive, e não menos importante, a morfologia e características de cultivo de mais de 200 cultivares, além de outras informações. Abaixo um pequeno resumo dos principais cultivares encontrados no Brasil.

As fontes referentes às informações do quadro acima encontram-se no artigo Oliveiras no Brasil, que trata sobre as características dos cultivares presentes no país.

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