Atualização de 13-02-2019:
Previsão de produção de azeite para 2019: 160.000 litros. A maior até então.
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Texto original
Os primeiros imigrantes, já na época das capitanias hereditárias e, posteriormente, durante os “Governos Gerais”, traziam mudas de oliveiras para o Brasil, dando início ao cultivo e produção para consumo próprio. Infelizmente, a coroa Portuguesa, observando a ameaça da produção que se iniciava na colônia e que poderia competir com o azeite produzido em Portugal, mandou que as oliveiras fossem derrubadas!
Poucas mudas restaram das árvores plantadas. A maioria próximas a igrejas e capelas.
Seguiu-se ao monopólio real do consumo do azeite português a “esperteza” de importadores portugueses. Esses “criaram” o fato de o Brasil não ser uma terra propícia para a olivicultura. Assim, por muito tempo, o país só conhecia azeites e azeitonas que vinham de Portugal.
Ainda assim, surgiram alguns olivais com mudas trazidas por imigrantes açorianos para o sul do país, no Rio Grande do Sul. Contudo, foi apenas com as ondas imigração ocorridas após a segunda guerra mundial que a cultura voltou a ter alguma atenção, inclusive com o plantio de oliveiras no sul de Minas Gerais – polo que mais cresce no Brasil atualmente.
Atualmente, diversas cidades tem se destacado no esforço de colocar o Brasil no mapa da produção de azeitonas e de azeite de oliva. Em Pinheiro Machado, no Rio Grande do Sul, localiza-se a maior plantação produtiva do Brasil, com 320 hectares. No total, são 1.700 hectares em todo estado (dados de 2015), com a maior concentração de olivais na região da Campanha.
Durante as décadas de 1950 e 1960 o engenheiro agrônomo Del Mazo percorreu o Brasil em busca de vestígios da cultura. Encontrou algumas árvores produzindo em diversos estados, dentre eles Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Maranhão.
RIO GRANDE DO SUL
Entre as décadas de 1940 e 1950 o político brasileiro João Batista Luzardo (1892-1982) foi o responsável por plantar, em Uruguaiana, 72.000 oliveiras de origem argentina (dada sua forte ligação com aquele país e o regime peronista). Foi o maior olival registrado até então no Brasil e com cuidados de técnicos brasileiros e argentinos. Pouco depois, a secretaria de agricultura do estado do RS veio a constatar que nossas oliveiras e seu azeite nada deviam aos produzidos na Itália. Isso posto, iniciou o fomento da cultura e, ainda na década de 1950, ocorreram os seguintes plantios.
- 45.000 árvores as margens do Rio Jacuí.
- 200.000 árvores em Arroio Grande, na propriedade do Conde Matarazo.
- 500.000 árvores em Pelotas, a mando de Souza Coelho.
Fossemos um pouco mais ligados a história de nosso país, talvez atribuíssemos a Batista Luzardo o título de patrono da olivicultura no Brasil.
EMBRAPA no RS
Em 2005, a EMBRAPA aprovou o projeto de pesquisa e desenvolvimento “Introdução e desempenho agronômico de cultivares de oliveira no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina”.
O projeto realizou o zoneamento climático do estado do RS, implementou 25 unidades experimentais de observação, sendo que cada unidade era composta por 30 cultivares, com três repetições cada cultivar, totalizando 90 árvores. O projeto também criou um banco de germoplasma.
Em 2010, a área destinada a olivicultura era de aproximadamente 400 hectares e, na média, 9,0 hectares por plantação. Os principais municípios envolvidos eram: Bagé, Dom Pedrito, Caçapava do Sul, Cachoeira do Sul, Alegrete, Rosário do Sul, Candiota, Cacequi, Santana do Livramento, São Gabriel, Uruguaiana, Candelária, Viamão, São Francisco de Paula, Rio Grande e Jaguarão. Os cultivares preferidos no RS são: Arbequina, Koroneiki, Arbosana e Picual – para azeite; Manzanilla, Cordovil de Sêrpa, Carolea e Galega – para mesa. O RS carece de profissionais especializados, bem como linhas de crédito para incremento da produção.
SANTA CATARINA
Entre as décadas de 1940 e 1950 a Secretaria de Agricultura de Santa Catarina não apresentou grande esforço em prol da olivicultura. Contudo, alguns trabalhos realizados pelo Instituto de Fomentação do Ministério da Agricultura (MAPA) provaram que a cultura era promissora na região, até mesmo no litoral. A despeito dos estudos conduzidos pela Epagri -Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, apenas oito áreas no oeste do estado, de um total de 18 implantadas, foram bem sucedidas em experimentos. Soma-se a falta de interesse, dificuldades do clima com ventos fortes e chuvas de granizo.
PARANÁ
Também não houve muito esforço dos órgãos governamentais do Paraná no mesmo período. Ainda assim, algumas cidades, através de iniciativa de proprietários privados, iniciaram suas culturas, dentre elas: Curitiba, Palmeira, Guarapuava e Rolândia.
No município de Guaraniaçu, a empresa Agrinco do Brasil, através da comercialização de mudas e plantio próprio, viabilizou no município um olival de 500.000 árvores. Hoje (2018) são 86 hectares, sendo 53 pertencentes a apenas um proprietário no município de Ventania.
SÃO PAULO
Ainda entre 1940 e 1950, em São Paulo várias plantações foram registradas. Principais municípios: Campos do Jordão, Limeira, Mogi das Cruzes, São Bento do Sapucaí, São Roque, São José dos Campos, Campinas, Poá, e Guaianases. Nessa mesma época, a Secretaria da Agricultura, através do IAC (Instituto Agronômico de Campinas), realizava experimentos em São Bento do Sapucaí com cerca de 16 cultivares.
Além da cultura no Rio Grande do Sul, o Conde Matarazzo, entre as décadas de 1950 e 1960, iniciou também a cultura de oliveiras no estado de SP. Mandou plantar 3.500 árvores em Campos do Jordão e 200.000 em São José dos Campos. No mesmo período, a Agrinco iniciou a plantação em Guararema.
A partir de 2009
Devido ao aumento da consulta de olivicultores e empresários do setor, em 2009 a APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios) – Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo iniciou pesquisa no setor, que deu origem ao projeto OLIVA SP, com pesquisadores de diversas áreas. O projeto visa o entendimento de todas as etapas da cadeia produtiva da cultura. O OLIVA SP conta com a participação de pesquisadores do Centro de Genética do IAC (Instituto Agronômico de Campinas), CATI (Núcleo de Produção de Mudas de São Bento do Sapucaí), APTA (Pólo Centro Sul, Piracicaba/SP); IAC (Centro de Climatologia), IAC (Recursos Fitogenéticos – Quarentenário), ITAL (Instituto de Tecnologia de Alimentos – Centro de Ciência e Qualidade dos Alimentos), IEA (Instituto de Economia Agrícola), IAC (Plantas Aromáticas e Medicinais) e ASSAM (Agenzia Servizi Settore Agroalimentare Marche) da Itália.
Focos do projeto OLIVA – SP:
- Zoneamento climático para a cultura da oliveira no estado de São Paulo.
- Dados de temperatura mínima, máxima, média e amplitude térmica de pontos do estado com estações meteorológicas automatizadas, gerenciadas pelo IAC. O objetivo é conhecer as áreas disponíveis e adequadas para o cultivo da oliveira.
- Ensaios de cultivares mais adaptados às condições climáticas. Visa o florescimento e frutificação das plantas, nas regiões escolhidas como aptas pelo zoneamento climático. As plantações serão acompanhadas aplicando-se técnicas de manejo e demais tratos como calagem e adubação, poda e controle fitossanitário. O acompanhamento ocorrerá até a produção e ajustados os parâmetros de cultivo. Serão observadas as consequências na produção e qualidade do azeite, bem como a aplicação medicinal dos frutos e folhas.
- Melhoramento dos cultivares para redução da exigência clássica de 200 horas de temperaturas abaixo de 12º centígrados para florescimento. Por consequência, aumentaria o potencial da cultura em áreas atualmente pouco ou totalmente inviáveis.
A APTA não está sozinha em São Paulo. A EPAMIG, sob a coordenação da CATI de São Bento de Sapucaí, acompanha o plantio em regiões entre SP-MG. Principais municípios: São Bento do Sapucaí, Campos do Jordão, Silveiras, Lorena, Natividade da Serra, Espírito Santo do Pinhal e Águas da Prata.
MINAS GERAIS
Na década de 1930 o portugues Emídio Ferreira dos Santos, ao chegar a cidade de Maria da Fé entendeu o potencial para culturas cohecidas por ele em sua terra natal. Dentre elas a oliveira.
Várias sementes foram trazidas por sua esposa em sua vinda para morar com seu marido. Hoje muitas árvores oriundas dessas sementes são encontradas pelo centro da cidade.
Observação: O portugues visionário também indicou a data de 01º de junho como sendo a de homenagem as oliveiras.
Em Minas Gerais entre as décadas de 1940 e1950 havia cultivares produzindo principalmente em Caldas, Caxambu, Diamantina, Guaxupé, Maria da Fé, Poços de Caldas, Sapucaí Mirim, Três Corações, Viçosa, Virgínia e Ouro Preto. O IAC desenvolveu uma parceria com o Dr. Abel Reis para desenvolver a cultura em Uberaba. A MAPA colaborou com o fornecimento de mudas a fazendeiros e a Agrinco focava em suas plantações em Caeté e Três Corações. A despeito dos relatos de extração de azeite em pequena escala por imigrantes italianos e espanhóis, através de métodos rústicos (ou tradicionais), somente em fevereiro de 2008 foi registrado o primeiro azeite totalmente brasileiro, fato corrido na EPAMIG (Empresa de Pesquisa e Agropecuária de Minas Gerais).
RIO DE JANEIRO E MARANHÃO
Não foram localizados registros de algum olival com representatividade nos estados do Rio de Janeiro e Maranhão.
Em 1957, o Ministério da Agricultura, em conjunto com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, apoiaram o plantio de 2 milhões de mudas para zonas semi-áridas. O plantio se deu nos municípios de Açu, Baturité, Pentecoste, Iço, Sousa, Pombal, Mossoró e Sobral. Entretanto, mesmo com engenheiro agrônomo designado para prestar acompanhamento e orientações, as culturas não se desenvolveram. Em outros municípios do nordeste a situação não foi melhor.
Diversos municípios citados no levantamento realizado por Del Mazo entre 1950 e 1960 não deram continuidade à cultura. O mesmo se deu pela falta de conhecimento e de infraestrutura necessária para a produção de azeite ou o fruto para mesa.
A EPAMIG E A MANTIQUEIRA
A despeito do sucesso do Rio Grande do Sul, destaca-se hoje o desenvolvimento da olivicultura no sul de Minas Gerais. Com auxílio da EPAMIG, que atua no setor desde 1940. Em 2009 produziu 50.000 mudas de oliveiras. No mesmo ano, adquiriu uma unidade experimental de extração de azeite, capaz de processar 100Kg de azeitona por hora e passou a atender aos produtores locais. A EPAMIG também é a responsável pelo desenvolvimento e registro dos únicos oito cultivares de oliveiras brasileiras junto ao Serviço Nacional de Proteção de Cultivares do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Oliveiras da Serra da Mantiqueira
Na região da Serra da Mantiqueira, na primeira década dos anos 2000, o cultivo ocupava aproximadamente 400 hectares. Em 2010, a maioria das mais de 200 mil árvores plantadas estavam produzindo. Mais de 50 municípios trabalhavam a cultura em diversas propriedades rurais. O foco da região era, e continua sendo, o cultivar Arbequina, devido a sua rusticidade e alta produtividade de azeite.
Outros cultivares encontrados
Outros cultivares encontrados na região são: Grapollo, Maria da Fé, Coratina, Arbosana, Ascolana, Cordovil de Serpa, Carolea, Galega e Koroneiki.
Fotos acima são da Universidade de Córdoba – Espanha
Contudo é possível observar o surgimento cada vez maior de cultivares oriundos de diversas partes do mundo. Alguns exemplos são: Hojiblanca, Manzanilla e Pictual e até experiências com a Toffahi, um cultivar egípcio. Quanto ao número de produtores, não é possível determinar com exatidão. Basta caminhar pelas regiões rurais da Mantiqueira para encontrarmos novas plantações. Em 2017, foram registrados 100 produtores na Serra da Mantiqueira. Aproximadamente 800 mil árvores plantadas, mais de 400 toneladas de azeitonas colhidas e 40 mil litros de azeite extraídos.
A qualidade de alguns produtores tem sido comparada aos melhores azeites do mundo.
Nota de 25-02-2019: Em 2018 foram registrados 160 produtores na mantiqueira e uma produçao nacional e 80 mil litros de azeite. Apesar de “pequena” a perspectiva de dobrar a produção dois anos seguidos é ÓTIMO!
Produção em Minas Gerais
Alguns municípios de Minas Gerais que estão cultivando oliveiras: Aiuruoca, Alagoa, Alpinópolis, Andradas, Antônio Carlos, Araponga, Baependi, Barbacena, Bom Repouso, Botelhos, Brazópolis, Bueno Brandão, Caldas, Camanducaia, Cambuquira, Campestre, Catas Altas da Noruega, Caxambu, Cristina, Delfim Moreira, Divisa Nova, Espera Feliz, Extrema, Gonçalves, Guarda Mor, Itabirito, Itabiruçu, Itajubá, Itamonte, Juiz de Fora, Lavras, Maria da Fé, Montes Claros, Munhoz, Nova Ponte, Ouro Preto, Paraisópolis, Piedade do Rio Grande, Piranguçu, Poços de Caldas, Raul Soares, Sacramento, Santa Rita do Ibitipoca, São Lourenço, Senador Amaral, Três Corações, Tupaciguara e Uberaba.
RESUMO BRASIL
O Brasil possui todas as condições para autossuficiência e exportação de azeitonas e azeite. Contudo, o país está atrasado no que diz respeito a este quesito. A realidade atual não reflete o potencial deste mercado. Em 2006, os gastos com importação de azeite chegaram a 236 milhões de reais. Para o ano de 2018, está previsto o dobro deste valor. A dependência da importação para o consumo de azeite no Brasil teve início nas questões históricas. Atualmente, deve-se a falta de políticas públicas de apoio ao desenvolvimento da cultura do azeite brasileiro.
Produção de azeite
A produção brasileira tem aumentado, ano após ano, graças ao aumento das áreas cultivadas, bem como ao amadurecimento dos olivais. Contudo, a produção brasileira ainda é totalmente inexpressiva dentro do cenário internacional e doméstico. Em 2006, a produção foi de 30.000 litros de azeite. Em 2017, passou para 60.000 litros, com 5 mil hectares cultivados. O consumo no Brasil, previsto para 2018, é de 60 mil toneladas. Isso equivale a 65,5 milhões litros de azeite – menos que 350ml per capita.
Produção de azeitonas
Na produção de azeitonas, a situação é ainda pior. Segundo o IOC (International Olive Council), o Brasil tinha, até 2005, uma produção de meia tonelada por ano. Em 1998, chegou a ser de uma tonelada. Mas, hoje a produção é considerada 0 (zero). Em 2017, o consumo de azeitonas no Brasil foi de aproximadamente 114 mil toneladas. A previsão para 2018 de 115 mil toneladas.
O Brasil importa quase 100% do que consome de azeitonas e azeites. Infelizmente, junto a bons azeites recebemos produtos misturados outros óleos vegetais e azeites refinados. Isso não impede que sejam vendidos no mercado como “azeite extravirgem”.
O futuro
Afirmar qual será a o futuro da produção de azeites ou azeitonas no Brasil em 5 ou 10 anos é quase o mesmo que tentar prever os números da loteria. Essa incerteza é pautada pelos novos olivais e pelo crescimento dos existentes – principalmente no sul de Minas Gerais, bem como pelo esperado aumento da produtividade dos olivais já implantados – quer seja pelo envelhecimento das árvores, ou pela adequação dos nutrientes necessários às árvores que estão tão distantes do seu berço de origem. Além disso, existem questões ainda menos conhecidas, tais como a polinização e o acompanhamento da curva de umidade adequada.
O fato é que tomamos um rumo sem volta. As oliveiras chegaram ao Brasil para ficar e a disseminação do uso do azeite começa a quebrar barreiras.
Também não podemos esperar uma produção competitiva com os principais mercados nessa geração, e talvez nem na próxima. Até lá, estamos “fadados” a produção de azeites artesanais e a aprendermos, ou reaprendermos a cultivar essa cultura milenar em nossas terras.
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